Resenha de Olhos d’água – Conceição Evaristo

“A nossa escrevivência não pode ser lida como história de ninar os da casa-grande, e sim para incomodá-los em seus sonos injustos”.

Uma combinação entre escrever, viver, escrever-se vendo e escrever vendo-se, “escrevivência” foi um termo cunhado por Conceição Evaristo. E, só pelo que li em Olhos d’água, já fica a certeza de que não há definição melhor para sua obra. Em menos de 120 páginas, a autora retrata a realidade das pessoas negras no Brasil, infelizmente marcada pela desigualdade social e pela violência.

Olhos d’água foi a minha primeira experiência com Conceição Evaristo. Já imaginava que seria uma leitura densa, mas ela ainda me surpreendeu. Sua escrita é única: objetiva e incisiva, mas também bela e poética. Em um jogo de palavras que a autora adora usar, uma poesia-verdade.

As histórias que compõem o livro abordam temas como racismo e desigualdade social, sem nunca precisar nomeá-los. E basta ler para entender que tais problemáticas podem ser invisíveis aos olhos de muitos, mas nem por isso deixam de ferir e interromper a vida de inúmeras pessoas todos os dias.

Meus contos favoritos foram Maria, Quantos filhos Natalina teve? e Zaíta esqueceu de guardar os brinquedos. No entanto, todas as histórias de Olhos d’água, sem exceção, são um chamado para nos atentarmos para uma realidade que talvez não seja a nossa, mas que não pode mais ser ignorada.

*Contém gatilhos de violência e abuso sexual

Editora: Pallas
Autora: Conceição Evaristo
Publicação original: 2014

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