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EUA esclarecem que “fronteiras não estão abertas”, mas migrantes seguem estimulados por fake news

Os migrantes que entrarem nos Estados Unidos sem visto ou documentos necessários a partir da meia-noite desta quinta-feira (11), quando expira uma norma ativada por causa da pandemia, serão expulsos, alertou o secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas. Apesar da queda da medida, que permite expulsar mais facilmente os migrantes, solicitar asilo pode ser tão difícil quanto antes para muitos deles, a partir desta sexta-feira (12).

Operação da polícia intercepta migrantes que atravessaram o Rio Grande nesta quinta-feira (11), dia do fim de medida que facilitava as expulsões dos EUA devido à pandemia.
Operação da polícia intercepta migrantes que atravessaram o Rio Grande nesta quinta-feira (11), dia do fim de medida que facilitava as expulsões dos EUA devido à pandemia. AP - Fernando Llano
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Às 23h59 horário de Washington (0h59 de sexta-feira em Brasília), o governo suspenderá a norma conhecida como "Título 42", uma política adotada para supostamente impedir a propagação da covid-19, mas que na prática bloqueou a possibilidade de solicitação de asilo. A "Título 42" chega ao fim depois das idas e vindas nos tribunais, onde os republicanos, que acusam o presidente democrata Joe Biden de ser negligente com a imigração, fizeram o possível para que a norma continuasse em vigor.

"Nossas fronteiras não estão abertas", esclareceu Mayorkas durante uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira (11), destacando que além de serem expulsos, as pessoas nesta situação não poderão voltar ao país no prazo de cinco anos e poderão ser processadas. É o que prevê o "Título 8", que seguirá ativo como antes da pandemia.

Sob o sol intenso do deserto, entre areia e matagais, centenas de imigrantes cruzaram o rio Bravo a partir do México diante do rumor de que os Estados Unidos liberariam a entrada no país. A esperança desses homens, mulheres e até crianças de cruzarem a fronteira acabou ao perceberem que foram vítimas da desinformação.

As mentiras se somam ao desespero dessas pessoas para alcançar a fronteira pelo México e, depois, para obter asilo nos Estados Unidos. Com sandálias e crianças nos braços, vários grupos atravessaram o rio na última semana a partir de Ciudad Juárez (norte), em busca do "portão 40" do muro que divide os dois países.

Versões espalhadas boca a boca e pelas redes sociais garantiam que o governo americano havia aberto esse acesso para processar solicitações de asilo. A porta, no entanto, nunca se abriu.

"Sim, é possível. Me entreguei na porta 40 com a minha família e todos nós fomos soltos (...) Não fazem perguntas", dizia uma publicação em um grupo no Facebook, referindo-se à prática de se entregar à patrulha fronteiriça e pedir proteção. A AFP encontrou dezenas de mensagens similares, nas redes sociais.

Do outro lado do rio, em solo americano, aproximadamente mil pessoas da Venezuela, Haiti, Equador e Turquia instalaram-se em barracas e abrigos, improvisados com pedaços de madeira e cobertores, esperando durante dias para "se entregar”. Eles querem cruzar a fronteira antes da meia-noite desta quinta-feira.

Neste ano, milhares de imigrantes se mobilizaram cinco vezes mais na fronteira, movidos pela desinformação, por trás da qual estariam grupos anti-imigração e até traficantes de pessoas, segundo especialistas.

Rede de mentiras

Em março, os migrantes tentaram cruzar uma ponte internacional estimulados pelo rumor de que a passagem estaria autorizada por um suposto "dia do imigrante”. O escritório da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP) do Texas reportou outra tentativa de "mais de 1.000" pessoas, mobilizadas por versões similares, após o incêndio que matou 40 estrangeiros em um centro de detenção de imigrantes em Ciudad Juárez, em 27 de março.

Em fevereiro, já havia circulado um rumor que assegurava que quem se entregasse seria levado para o Canadá. Ángel Pavón, venezuelano de 52 anos, foi um dos quase 500 migrantes que acreditou na história e se instalou junto do muro.

Pavón se entregou com sua esposa e filhas, de 14 e 12 anos, mas foram expulsos para o México. "Descartaram as três coisas que tínhamos (...) As meninas choraram, porque te tratam como um terrorista”, contou.

Inconsolável, focou as atenções no aplicativo para celular CBP One, habilitado pelo Escritório de Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP, na sigla em inglês) para a marcação de audiências no México, nas quais os imigrantes podem solicitar asilo. Sua esposa conseguiu uma audiência e espera a família nos Estados Unidos.

Grande parte do trâmite de asilo agora dependerá do aplicativo a partir desta sexta-feira (11). A tecnologia parece desconectada da dramática realidade de sua fronteira, onde celular, Wi-Fi e eletricidade são luxos.

Impulso de criminosos e opositores

Diante das sucessivas quedas do CBP One, cujo funcionamento é criticado, foram criados grupos no Facebook e WhatsApp nos quais os migrantes compartilham experiências sobre o aplicativo, mas também disseminam informações falsas.

Landon Hutchens, funcionário da imigração em El Paso, Texas, fala que "organizações criminosas impulsionam" igualmente a desinformação.

A AFP identificou contas do TikTok nas quais supostos traficantes de pessoas e "assessores migratórios" oferecem seus serviços e descontextualizam a informação. Os próprios migrantes compartilham entre si esses contatos no Facebook.

O tráfico de imigrantes também é "um negócio cujas estratégias de comunicação utilizam majoritariamente a desinformação", explica Olivier Tenes, da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

No TikTok, são oferecidas supostas audiências no CBP One. Depoimentos recolhidos pela AFP confirmam que são fraudes.

A informação falsa surge através dos "grupos extremistas buscando gerar caos e uma narrativa anti-imigração", diz Sam Wooley, pesquisador de persuasão e redes sociais da Universidade do Texas.

Para Enrique Valenzuela, responsável pela atenção aos imigrantes do governo de Chihuahua (norte), essas pessoas são suscetíveis à desinformação, porque "ficam com a parte [da mensagem] que lhes gera esperança".

Com informações da AFP

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