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DA MATA ATLÂNTICA
“Relatos de Pesquisas e Outras Experiências
Vividas no Vale do Ribeira”
Editores
Ministério do Meio Ambiente - MMA
Secretaria de Biodiversidade e Florestas
Universidade Estadual Paulista - UNESP
Fundação de Apoio à Pesquisa, Ensino e Extensão - FUNEP
2010
© 2010 by Reginaldo Barboza da Silva
Lin Chau Ming
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida
sem a autorização prévia do detentor do compyright.
PEDIDOS PARA:
UNESP - Campus Experimental de Registro
Av. Nelson Brihi Badur, 430 - Vila Tupy
11900-000 - Registro - SP
contato@pbma.com.br
Os editores
.
Prefácio
Ao ser convidado pela coordenação para proferir a palestra de abertura
do II Seminário do Polo de Biotecnologia da Mata Atlântica, PBMA, veio-me ime-
diatamente à lembrança de como a proposta do PBMA veio à baila, fazendo-me
aceitar o convite, em razão do meu envolvimento com a criação desta importante
organização do Vale do Ribeira. Posteriormente, com a proposta para que eu fizesse
o prefácio desta publicação, deram essas razões mais ênfase para o aceite, também,
deste honroso convite.
Rememorando, foi numa reunião política, no ano de 2004, nesta capital do
Vale do Ribeira, que fui designado para representar o Ministério do Meio Ambien-
te, em que a ideia do Polo de Biotecnologia foi primeiramente elaborada. Àquela
época, a discussão sobre o CBA – Centro de Biotecnologia da Amazônia, estava em
pauta no Governo Federal, sendo que o Ministério do Meio Ambiente tinha a opi-
nião contrária à majoritária, de que a biotecnologia a ser criada e aplicada na e para
a biodiversidade da Amazônia deveria, prioritariamente, ser dirigida aos povos da
Amazônia, ou que não deveria ser uma biotecnologia elitista voltada somente para
grupos industriais sulistas e internacionais.
Foi nessa reunião política memorável em Registro que, então, me manifes-
tei contra a direção tecnocrática que tomava o CBA à época, sugerindo à deputada
Mariângela Duarte, que coordenava a reunião, que se criasse na capital do Vale do
Ribeira, região de maior percentual de cobertura de Mata Atlântica, um Centro de
Biotecnologia da Mata Atlântica diferente. Ou que este centro desenvolvesse e apli-
casse biotecnologia voltada para o uso da biodiversidade para o manejo sustentável
por agricultores familiares, ou para a maioria da população da região. Essa foi a
história que originou o Polo de Biotecnologia da Mata Atlântica, que fica então aqui
registrada.
Dessa forma, ao prefaciar a publicação, que registra “relatos de pesquisas e
outras experiências vividas no Vale do Ribeira”, tendo como editores os Professores
da UNESP, Reginaldo Barboza da Silva e Lin Chau Ming, só temos de enaltecer e
parabenizar os pesquisadores juntamente com a comunidade que foram os pro-
tagonistas desse processo importante na região. Os artigos que fazem parte desta
obra incluem desde: i) Cataia: Muito Consumida, Pouco Conhecida, de P.G. Morgan-
te, J.V. Coffani-Nunes, P.R.H. Moreno e M. Sobral; ii) Aspectos Botânicos das Plantas
Medicinais Usadas por Especialistas Locais em Iporanga - SP, de M.A. Gonçalves-
Costa, L.C. Ming, I. Carvalho e M.A.P. Vasquez; iii) Flora do Vale do Ribeira: Listagens
das Angiospermas, de J.V. Cofani-Nunes e E.W. Weissenberg; iv) Conservação e Uso
Sustentável da Biodiversidade do Vale do Ribeira, de E. Cardoso-Leite, D. Podadera
e J. Peres; v) Compostagem de Resíduos das Agroindústrias do Palmito e da Banana
no Vale do Ribeira-SP, de F.A. de Melo Silva, R.B. da Silva e R. Pavarini; vi) Palmeira-
-Juçara em Quintais Quilombolas do Vale do Ribeira: Manejo de Produção de Frutos
e Polpa, de R.M. Barroso, L.F. do Carmo, V.A. Klier, R. Pasinato e N. Hanazaki; vii)
Degradação Estrutural do Solo em APP do Rio Ribeira de Iguape, de R.B. da Silva, P.
Iori, M.S. Dias Junior e P.A. Martins; viii) Importância Econômica dos Camarões-de
-Água-Doce, de G. Beritini e W.C. Valenti; ix) Estatística Pesqueira do Litoral Sul de
Săo Paulo, de J.T. Mendonça e A.G. Cordeiro; x) Silício: um elemento útil na Banani-
cultura, de L.J.G. Godoy, G. Felisberto, R.M. Fehr e S.G. Goçalo; xi) Influência das Po-
líticas Públicas na Cultura Guarani Mbyá, de C. Cardoso; xii) Do Escravo ao Quilom-
bola: Modo de Vida dos Remanescentes do Vale do Ribeira, de L.C. Munari, M.A.
Crevelaro, V.L. Spressola-Prado, H.A. da Silva, C.S. Taqueda, N.N. Pedroso-Junior,
C.B. Angeli, e R.C.M. Netto xiii) Resgate das Práticas de Uso das Plantas Medicinais
por Comunidades Caiçaras de Cananeia-SP, de B.C. Magdalena e J.S. do Nascimen-
to; xiv) Sistemas Agroflorestais na Mata Atlântica: Estudo de Caso do Vale do Ribei-
ra, de D.S. Podadera, E.A. Costa Júnior, E. Cardoso-Leite e F.C. M. Piña-Rodrigues;
xv) Levantamento Etnobotânico das Plantas Medicinais de Quilombos Pedro Cubas,
Eldorado-SP, de D.S. Rodrigues, A.J.S. Soares e M.M. Sant´Ana; xvi) Cílios do Ribeira:
Recuperação das Matas Ciliares da Bacia do Ribeira, de I. Wiens, C.A. Gazzetta, N.
Tatto, R. Pasinato e V.A. Klier; xvii) Restauração Participativa em Áreas Protegidas:
Mosaico do Jacupiranga-SP, de R.U. Resende, O.J.B. Bim e J.M. Neto.
Finalmente, mostrando que várias instituições de pesquisa, juntamente
com a comunidade, aportaram contribuições importantes nesta publicação, desta-
camos e damos os devidos créditos a: Center for Environm. Res. For Conservation
– Univ. N.York, NY; Caeetê Florestal – São Paulo-SP; Fundação Florestal- SMA/SP;
IDESC- Registro-SP; Instititutp Ambiental Vidágua – Bauru-SP; Institituto Botânica
– S. Paulo-SP; Institituto Pesca – SAA – Cananeia-SP; Institituto Socioambiental – S.
Paulo-SP; Prefeitura Barra Turvo-SP; UEL – Londrina-PR; UFSC – Florianópolis-SC;
UFSCar – Sorocaba-SP; UFLA - Lavras - MG; UNESP – Botucatu-SP; UNESP – Jabotica-
bal–SP; UNESP – Registro-SP; USP – ESALQ – Piracicaba-SP; USP – Instit. Química – S.
Paulo-SP. Agradecimentos à Comunidade do Vale do Ribeira que colaborou nestas
pesquisas aqui publicadas.
Os editores
.
Apoio:
Realização:
Colaboradores:
Mirela Andréa Alves Ficher Senô
Funep
Capítulo 1
CATAIA: MUITO CONSUMIDA, POUCO CONHECIDA ................................. 19
Patrícia Gleydes Morgante, João Vicente Coffani-Nunes,
Paulo Roberto H. Moreno, Marcos Sobral
Capítulo 2
ASPECTOS BOTÂNICOS DAS PLANTAS MEDICINAIS USADAS POR
ESPECIALISTAS LOCAIS EM IPORANGA-SP ................................................ 41
Maria dos Anjos Gonçalves-Costa, Lin Chau Ming, Izabel de Carvalho, Miguel Angel
Pinedo Vasquez
Capítulo 3
FLORA DO VALE DO RIBEIRA: LISTAGEM DAS ANGIOSPERMAS .................. 61
João Vicente Cofani-Nunes, Erick Willy Weissenberg
Capítulo 4
CONSERVAÇÃO E USO SUSTENTÁVEL DA BIODIVERSIDADE FLORESTAL
NA MATA ATLÂNTICA DO VALE DO RIBEIRA ............................................. 95
Eliana Cardoso-Leite, Diego Sotto Podadera, Juliana Cristina Peres
Capítulo 5
ViABILIDADE DA COMPOSTAGEM PARA O APROVEITAMENTO DE
RESÍDUOS DAS AGROINDúsTRIAS DO PALMITO E DA banana no vALE
DO RIBEIRA-SP ......................................................................................... 111
Francisca Alcivania de Melo Silva, Reginaldo Barboza da Silva, Ronaldo Pavarini,
Thaís Cristina de Morais Vidal
Capítulo 6
A PALMEIRA-JUÇARA (EUTERPE EDULIS MART.) EM QUINTAIS
QUILOMBOLAS DO VALE DO RIBEIRA: MANEJO DE POPULAÇÕES E
PRODUÇÃO DE FRUTOS E POLPA ............................................................. 125
Renata Moreira Barroso, Vinícius de Araújo Klier, Natalia Hanazaki
Capítulo 7
DEGRADAÇÃO ESTRUTURAL DO SOLO DE EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO
PERMANENTE DA SUB-BACIA DO RIO RIBEIRA DE IGUAPE ......................... 139
Reginaldo Barboza da Silva, Piero Iori, Moacir de Souza Dias Junior,
Pedro Antonio Martins
Capítulo 8
IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DOS CAMARÕES-DE-ÁGUA-DOCE ................ 155
Giovana Bertini, Wagner C. Valenti
Capítulo 9
ESTATÍSTICA PESQUEIRA DO LITORAL SUL DE SÃO PAULO –
METODOLOGIA E RESULTADOS ................................................................ 171
Jocemar Tomasino Mendonça, Adir Gomes Cordeiro
Capítulo 10
SILÍCIO: UM ELEMENTO ÚTIL NA BANANICULTURA .................................. 191
Leandro José Grava de Godoy, Guilherme Felisberto,
Rafhael Mendes Fehr, Stéfano Gongora Goçalo
Capítulo 11
AS POLÍTICAS PÚBLICAS DA SEGURIDADE SOCIAL BRASILEIRA E
A INFLUÊNCIA NA CULTURA GUARANI MBYÁ DO VALE DO RIBEIRA ......... 207
Cynthia Franceska Cardoso
Capítulo 12
DO ESCRAVO AO QUILOMBOLA: A HISTÓRIA E A TRANSFORMAÇÃO
DO MODO DE VIDA DOS REMANESCENTES DE QUILOMBO DO
VALE DO RIBEIRA ...................................................................................... 225
Lucia Chamlian Munari, Mirella Abrahão Crevelaro, Vânia Luisa Spressola Prado, Hen-
rique Ataide da Silva, Carolina Santos Taqueda, Nelson Novaes Pedroso Junior, Claudia
Blanes Angeli, Regina Célia Mingroni Netto
Capítulo 13
NOS CAMINHOS DA ORALIDADE: RESGATE DAS PRÁTICAS DE USO
DE PLANTAS MEDICINAIS POR COMUNIDADES TRADICIONAIS
CAIÇARAS DE CANANEIA, VALE DO RIBEIRA-SP ........................................ 245
Bianca Cruz Magdalena, Juliano Silva do Nascimento
Capítulo 14
DIFUSÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS NA MATA ATLÂNTICA:
ESTUDO DE CASO DO VALE DO RIBEIRA ................................................... 257
Diego Sotto Podadera, Edgar Alves da Costa Júnior,
Eliana Cardoso-Leite, Fátima C. M. Piña-Rodrigues
Capítulo 15
LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO DAS PLANTAS MEDICINAIS
NA COMUNIDADE REMANESCENTE DE QUILOMBOS PEDRO CUBAS,
ELDORADO-SP .......................................................................................... 275
Domingos S. Rodrigues, Afrânio J. S. Soares, Maisa M. Sant´Ana
Capítulo 16
CAMPANHA CÍLIOS DO RIBEIRA: UMA INICIATIVA PELA
RECUPERAÇÃO DAS MATAS CILIARES DA BACIA HIDROGRÁFICA
RIBEIRA DE IGUAPE/LITORAL SUL ............................................................. 285
Ivy Wiens, Clodoaldo Armando Gazzetta, Nilto Tatto,
Raquel Pasinato, Vinícius de Araújo Klier
Capítulo 17
RESTAURAÇÃO PARTICIPATIVA EM ÁREAS PROTEGIDAS: UMA EXPERI-
ÊNCIA NO MOSAICO DO JACUPIRANGA, SÃO PAULO, BRASIL ............... 301
Roberto U. Resende, Ocimar Jose B. Bim, João M. Neto
.
PARTE I
“Relatos de Pesquisas”
.
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
1. Fanerocotiledonar
2. Criptocotiledonar
3. Emergência inicial curvada
4. Emergência inicial direita
5. Cotilédone epígeo
26 Morgante, P. G. et al.
6. Cotilédone hipógeo
7. Cotilédone foliáceo
8. Cotilédone não foliáceo
9. Cotilédone pedicelado ou atenuado em pseudopedicelos
10. Cotilédone séssil
11. Cotilédone com limbo basicamente inteiro
12. Cotilédone com limbo lobado, recortado
13. Primeiro par de protófilos opostos
14. Primeiro par de protófilos alternos
15. Primeiro par de protófilos simples
16. Primeiro par de protófilos compostos
17. Protófilo estipulado
18. Protófilo não estipulado
19. Epicótilo com catáfilos
20. Epicótilo sem catáfilos
21. Margem dos protófilos inteira
22. Margem dos protófilos dentada ou mais ou menos partida
Sigla Sigla
Características
(português) (inglês)
FEF PEF Plântulas fanerocotiledonares, epígeas, foliares
FER PER Plântulas fanerocotiledonares, epígeas, de reserva ou absorção
FHR PHR Plântulas fanerocotiledonares, hipógeas, de reserva ou absorção
CHR CHR Plântulas criptocotiledonares, hipógeas, de reserva ou absorção
CER CER Plântulas criptocotiledonares, epígeas, de reserva ou absorção
cubação para a ligação dos oligos nas sequências-alvo do DNA vegetal, os fragmentos
ligados foram capturados por meio de esferas magnéticas cobertas com estrepdavi-
dina. Os fragmentos selecionados nesta etapa foram amplificados por PCR, clonados
em vetor pGEM-T e usados para transformar bactérias E. coli XL1-BLUE (Figura 4).
Estes dados permitiram uma busca por “primers” para amplificação de locos
SSR em indivíduos pertencentes a populações naturais de cataia. Esta genotipagem
de indivíduos, após análise em diversos programas computacionais, permitirá a ob-
tenção das informações desejadas sobre a estrutura e a diversidade genética das
populações. Até o momento, foram selecionados 16 pares de “primers”, cada qual
identificando um loco SSR distinto, e estes “primers” estão sendo testados para
padronizar as melhores condições de reação e seu uso na genotipagem das plantas
(MORGANTE et al., 2009b).
O estudo será baseado, na primeira etapa, em três populações naturais de
P. pseudocaryophyllus encontradas no Vale do Ribeira, Estado de São Paulo, sendo
duas de região litorânea – Ilha do Cardoso e Ilha de Cananeia – e uma de região
Montana – “Morro da Cataia”, próximo à cidade de Cajati (Figura 7). As plantas da
região litorânea encontram-se em área de Restinga, sendo que na Ilha de Cananeia
o ambiente está menos preservado devido à ação humana; as plantas do “Morro da
Cataia” estão em uma formação vegetal do tipo Floresta Ombrófila Densa Montana
(Figura 8). Outras populações, pertencentes a outros Estados e tipos diversos de
formação vegetal, serão incluídas ao trabalho futuramente.
Como mencionado anteriormente, o trabalho com marcadores SSR em espé-
cies nativas ainda é difícil devido à ausência de locos e “primers” específicos carac-
terizados. Assim, este banco permitirá não somente um avanço no conhecimento
das populações da espécie em questão, mas também o potencial uso destes mar-
cadores para investigações científicas envolvendo outras mirtáceas, uma vez que já
foi comprovada a possibilidade de transferência de “primers” para espécies e até
mesmo gêneros diferentes (Zucchi et al., 2002; SANTOS et al., 2007).
Cataia: muito consumida, pouco conhecida 33
1996; LIMBERGER et al., 1998; SILVA et al., 2003). O óleo de Syzigium aromaticum
(L.) Merr. & Perry, rico em eugenol, é amplamente utilizado tanto pela medicina
tradicional quanto em odontologia, como antimicrobiano e anestésico (CHAIEB et
al., 2007). O óleo de espécies de Melaleuca L. também apresentou atividade anti-
microbiana e antifúngica (LEE et al., 2002; COX et al., 2000).
desses óleos nas folhas variando entre 1-2% em massa (SAKITA et al., 1994; LIMA et
al., 2006; PAULA et al., 2009).
No Estado de São Paulo, uma população de P. pseudocaryophyllus encontrada
no Parque Estadual de Campos do Jordão, região de campos montanos, apresentou
como componentes majoritários do óleo essencial o geranial e o neral, isômeros
conhecidos como citral A e B, correspondendo, respectivamente, a 34 e 28% dos
componentes totais do óleo, conferindo a essas folhas um aroma semelhante ao da
cidreira (SAKITA et al., 1994). Na região, as folhas dessa espécie são utilizadas na
forma de infusão como um calmante, regulador da digestão e da menstruação. Uso
semelhante ao de outras espécies ricas em citral, tais como Cymbopogum citratus
(D.C.) Stapf. e Lippia alba (Mill.) N.E.Br. (DI STASI; HIRUMA-LIMA, 2002). A presença
do citral como componente majoritário do óleo essencial também foi descrita para
populações de P. pseudocaryophyllus coletadas em Minas Gerais tanto em região de
Cerrado (PAULA et al., 2009) como em floresta estacional (APEL et al., 2009).
A análise do óleo essencial de três populações coletadas em três ecossis-
temas distintos, na região de Mata Atlântica, ambiente de restinga (Ilha do Car-
doso), encosta de serra mais para o interior do Estado (“Morro da Cataia”) e uma
região Montana (Paranapiacaba, Santo André – SP), indicaram que os óleos essen-
ciais das diferentes populações tinham uma composição distinta. Na restinga (Ilha
do Cardoso), o componente principal foi o eugenol (72%), enquanto no ambiente
montano de Paranapiacaba o óleo era composto quase que na sua totalidade por
metileugenol (95%) (LIMA et al., 2006), e as espécies do “Morro da Cataia” também
acumulavam eugenol (26%), mas continham, ainda, uma grande quantidade de mo-
noterpenos, p-cimeno (14%) e 1,8-cineol (10%), conferindo um aroma mais cítrico
para as folhas (APEL et al., 2009). Recentemente, um estudo com outra população
de restinga (Ilha Comprida – SP) indicou a presença de chavibetol, um isômero do
eugenol, como componente majoritário do óleo essencial nessas plantas (SANTOS
et al., 2009). Paula e colaboradores (2009) também relataram a ocorrência de uma
população contendo metileugenol como componente majoritário numa região de
Cerrado no Planalto Central (Brasília – DF).
Alguns estudos iniciais sobre o potencial farmacológico dessa espécie foram
relacionados com a presença dos óleos essenciais. O extrato bruto de folhas de P.
pseudocaryophyllus coletadas em diferentes localidades apresentou uma atividade
antimicrobiana distinta, resultado atribuído à diferente concentração e composição
dos óleos essenciais nas amostras (PAULA et al., 2009). O potencial antimicrobia-
no e sua dependência da composição química nos óleos essenciais de espécimes
de P. pseudocaryophyllus já havia sido anteriormente descrito (LIMA et al., 2006).
Recentemente também foi determinada a atividade anti-inflamatória dos óleos de
diferentes populações de P. pseudocaryophyllus (APEL et al., 2009).
Tendo em vista as variabilidades química e morfológica de P. pseudocaryo-
phyllus, faz-se necessário um estudo mais detalhado sobre a genética de suas po-
pulações para podermos concluir se essas são apenas variedades botânicas e qui-
miotipos ou se temos, de fato, espécies distintas.
Cataia: muito consumida, pouco conhecida 37
Agradecimentos
Referências bibliográficas
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40 Morgante, P. G. et al.
Introdução
MATERIAL E MÉTODOS
- Iporanga:
Iporanga tem uma população urbana de 2.076 pessoas (IBGE, Censo
Populacional, 2000). Na área da saúde, a zona urbana do município conta com
um Centro de Saúde e uma Unidade de Observação (os moradores chamam-na
de Santa Casa), onde os pacientes ficam em observação por 24 horas e depois
são encaminhados para o Hospital Regional do Vale do Ribeira, no município de
Pariquera-Açu, viagem que demora aproximadamente duas horas de ambulância.
O município mantém o PSF, o Programa de Assistência à Saúde da Família,
que é um Programa de assitência à saúde do Governo Federal, com duas equipes,
uma urbana e outra rural. No momento, a equipe urbana está trabalhando para as
Aspectos botânicos das plantas medicinais usadas por especialistas locais em Iporanga-SP 47
duas áreas, pois falta um médico para a equipe rural. A equipe é formada por um
médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e cinco agentes comunitários.
A situação é complicada, há dois anos tem havido substituições frequentes de
médicos na equipe rural, por não se adaptarem às condições do trabalho. O trabalho
da equipe rural inclui fazer visitas nas casas e postos de saúde das zonas rurais, mas
com a falta do médico, as visitas são cada vez mais escassas e o atendimento passa
a ser no Centro de Saúde, na sede do município.
O Centro de Saúde tem 15 funcionários e é sede para as duas equipes do PSF,
que organizam todo o trabalho a ser realizado na cidade e nos bairros rurais.
Com relação à educação, a zona urbana tem uma escola de ensino
fundamental e médio, e ainda supletivo, a única escola do município com estes dois
útimos. A taxa de alfabetização do município, segundo os dados do IBGE, 2000, é de
83,5%. Da cidade saem os transportes para os bairros, buscando e levando de volta
os alunos. Esse transporte é terceirizado, e os carros são de diversos tipos, perua
kombi, picape e ônibus, alguns em condições precárias.
A economia da região como um todo tem base na agricultura e pesca de
subsistência, o comércio e o turismo são muito intensos. Nas várias pousadas, hotéis,
camping, pensão e restaurantes são empregadas várias pessoas, o crescimento do
turismo a cada ano absorve mais pessoas, porém sem treinamentos adequados
para a área, sendo uma atividade com pouca ou nenhuma estrutura física. Existe
ainda na cidade uma agência do banco Santander e um caixa eletrônico da Caixa
Econômica Federal, onde os pais recebem o dinheiro do programa Bolsa Escola.
- Betari
É um bairro rural que se localiza a 8 km de Iporanga, pela SP 165, estrada que
liga Apiaí a Iporanga. É uma estrada de terra com trechos perigosos, foi construída
aproximadamente na década de 50 e um dos informantes da pesquisa trabalhou
em sua construção pelo DER. Esse bairro é uma zona de exclusão do PETAR, ou seja,
a área referente ao bairro que está fora da área do parque.
A estrutura física do bairro tem uma pré-escola, um posto de saúde, um
pequeno bar e pousadas. No bairro, há 23 famílias, com uma população aproximada
de 75 pessoas.
A economia é voltada para a agricultura de subsistência com o plantio de
milho, feijão, mandioca, banana, um pouco de cana, além do turismo. Como o bairro
é de fácil acesso, próximo à cidade e ao bairro da Serra, onde há uma concentração
de cavernas muito grande e um intenso fluxo de turistas em feriados prolongados, as
pousadas do bairro recebem muitos turistas atraídos pelas cachoeiras, as cavernas
e os locais que são próprios a esportes radicais. É mais uma fonte de renda para
os moradores, além da geração de empregos. Mas o crescimento desordenado do
turismo em quase toda a cidade deixará marcas irreversíveis, se não for traçada uma
estratégia de ação para amenizar os impactos ambientais, sociais e principalmente
culturais que afetam e afetarão a população nativa.
A construção do posto de saúde iniciou-se em 2000 e foi concluída em 2001,
48 Gonçalves-Costa, M. A. et al.
mas a unidade ainda não está funcionando. Esse posto é para abrigar a equipe do
PSF rural, quando voltar à ativa. As pessoas, quando necessitam, vão para Iporanga
ao Centro de Saúde. O transporte até a cidade é facilitado, pois tem uma linha
de ônibus Iporanga - Apiaí, que circula de segunda a sábado, além do transporte
escolar que é feito de ônibus e tem um custo reduzido ou mesmo de graça, às vezes.
- Pilões
Pilões é uma comunidade remanescente de quilombo, com titulação da
área fornecida pelo Governo do Estado de São Paulo, através do ITESP (Instituto
de Terras de São Paulo) para a Associação, desde 1999. É uma área de exclusão do
Parque Estadual de Intervales. Localiza-se a 28 km da cidade. Não há transporte
definido até o bairro. Quando é época de escola, as crianças vêm em uma Kombi,
por uma estrada de terra até o Rio Ribeira de Iguape, atravessam na balsa e andam
mais 14 km pela estrada de asfalto que liga Eldorado a Iporanga. A dificuldade de
acesso não impede que a maioria dos moradores vá à cidade, pelo menos a cada
mês, principalmente os aposentados.
O bairro conta com uma estrutura física bem precária. Poucas casas são de
alvenaria, a maioria é de pau a pique. Foi feito recentemente um posto de saúde,
que ainda não está em funcionamento; tem ainda dois pequenos bares de pau a
pique, uma escola e uma igreja. No porto de Pilões, existe iluminação. Com relação
ao saneamento básico, é muito precário, algumas casas não têm fossa séptica, e
quando têm, está em estado inutilizável; a água não tem tratamento, e poucas
casas têm uma caixa de armazenamento de água. A água consumida é de poços
artesianos e do Rio Itacolomi, um dos rios que circulam o porto juntamente com o
rio de Pilões.
Na saúde, a situação é crítica, pois o posto ainda não está funcionando; só
quando acontece alguma campanha a nível municipal é que a equipe do PSF urbano
costuma ir às comunidades, que assim utilizam o posto. Na comunidade, mora uma
agente de saúde, mas não pode atender os casos mais delicados, só acompanhar
os pacientes até o centro de saúde da cidade e fazer acompanhamentos que são
descritos pelo médico. O transporte para ir até a cidade, quando não há aula, é
feito através de carona ou combinando com quem tem carro, que são apenas dois,
pagando uma taxa, a pé ou ainda a cavalo. As crianças da comunidade e da cidade
em geral têm muito problema de verminose, provavelmente em função da falta de
saneamento básico, fator fundamental para a incidência de parasitoses.
A economia do bairro gira em torno da agricultura e pesca de subsistência,
um pouco de criação de peixes em tanques e criação de porcos em algumas casas. A
agricultura é feita no sistema de coivara, ou seja, faz-se a roçada, queima, destoca,
e então faz o plantio. Os produtos plantados são o milho, arroz, feijão, mandioca,
banana e, em algumas casas, a horta. O plantio é feito de comum acordo com os
membros da Associação, pode ser individual ou coletivo, sendo na maioria das vezes
individual. O ITESP é o órgão que fiscaliza e dá assistência aos produtores, fornece
sementes, adubos, implementos, como arado, e recebe com a produção, tudo via
Aspectos botânicos das plantas medicinais usadas por especialistas locais em Iporanga-SP 49
Associação; e fornece também a autorização da área para fazer a roçada, queimada
e posteriormente o plantio. A agricultura no bairro de Pilões é mais intensa em
comparação com o outro bairro rural, Betari.
As relações de gênero não são muito explícitas, ou seja, por exemplo, no caso
da agricultura, a roçada e a queimada geralmente não são trabalho feminino, mas
em alguns casos, como na ausência do homem, pode ser realizado pela mulher
também. Normalmente, a roçada e a queimada são trabalhos exclusivamente
masculinos; o plantio, as capinas e a colheita envolvem toda a família.
Pilões tem aproximadamente 30 famílias e uma população de 130 pessoas,
por enquanto. Muitas famílias estão saindo da comunidade para trabalhar no
plantio de tomate em Guapiara e Apiaí. Primeiro vão os homens, pai e filhos mais
velhos e depois voltam, antigamente para fazer suas lavouras, mas atualmente para
buscar o resto da família.
O contato com turistas, por parte da comunidade, é muito pouco, a não
ser pessoas conhecidas de alguém da comunidade. As poucas televisões que
há no porto servem para aglomerar as pessoas em sua volta. Algumas pessoas
comentaram que antigamente todas as pessoas se juntavam na igreja, nos finais de
semana ou em dias de festas religiosas para as celebrações e, em finais de colheita,
quando acontecia um grande baile, onde dançavam o fandango e conversavam a
respeito da vida com muito mais intensidade.
As comunidades remanescentes de quilombos procuram manter as tradições
e os costumes, buscando preservar uma forma de vida mais adaptada ao meio em
que vivem. Em Pilões, é um costume tomar o guiné na Sexta-Feira Maior “para
atropelar o Coisa Mau”, ou seja, uma garrafada feita com raiz de guiné e fedegoso,
folha de arruda e alecrim, semente de capiá e caetezinho, que são colocados na
pinga à meia-noite de quinta-feira da Semana Santa e bebe-se na Sexta-Feira Santa;
sua função é a proteção do corpo e é uma bebida muito forte. Em Iporanga, os dois
informantes comentaram sobre a bebida, mas não a fazem. Um deles disse que
fazia antigamente.
Para definir a amostra, foram realizadas algumas visitas a campo com
o objetivo de observar a região e estabelecer os contatos necessários para a
viabilização do trabalho. As três comunidades foram escolhidas de acordo com a
presença de pessoas com maior conhecimento sobre ervas medicinais e que foram
identificadas pela própria comunidade.
Para escolher as pessoas de cada comunidade a serem entrevistadas, foi
utilizado um método conhecido por “bola de neve” (Bernard, 1988), que consistiu
em conversar com algumas pessoas da comunidade e perguntar se havia alguém que
fazia remédio na comunidade ou quem era a pessoa que mais tinha conhecimento de
ervas medicinais. Nas três comunidades pesquisadas, as informações convergiram
para cinco pessoas com um ponto em comum: todas as indicadas eram mais idosas.
A coleta de dados foi feita através de observação participante e de entrevistas
estruturadas e semiestruturadas, sendo utilizada uma caderneta de campo para
as anotações, gravador de fita cassete, com autorização do informante e registro
50 Gonçalves-Costa, M. A. et al.
fotográfico.
Fazendo adaptações ao trabalho de Brondízio e Neves (1996), foi realizada
uma caminhada com cada um dos informantes. O próprio informante definiu a trilha
para a caminhada de acordo com sua familiaridade do local e facilidade de acesso,
respeitando suas limitações físicas. Antes de sair para o “passeio”, foi combinado
que ele (a) mostraria todas as plantas que eram usadas para remédio, informando
qual parte da planta era utilizada e como era feito o remédio. O estímulo durante
a caminhada foi no sentido de lembrar para o (a) informante o propósito desta.
As informações foram anotadas no caderno de campo, e as plantas, coletadas e
herborizadas. O objetivo principal desse método foi perceber seu entendimento
sobre o ambiente de coleta e estabelecer maior contato com o informante.
A coleta do material botânico foi feita juntamente com o informante nos
vários momentos de contato. As dúvidas que surgiram com relação às plantas foram
sendo tiradas ao longo da realização do trabalho com novas coletas.
O material botânico foi devidamente prensado no campo, identificado e
depositado no Herbário do Instituto de Biociências, UNESP – Câmpus de Botucatu -
SP (BOTU).
Resultados e discussão
... continuação
Coriandrum sativum L. Coentrinho C Erva E 2
Eryngium foetidum L. “Coentro-de-pexe” R Erva E 1
Foenicullum vulgare Mill. Erva-doce C Erva E 2
Araceae
Phylodendron sp. (a) Cipó-imbé C Cipó N 2
Phylodendron sp. (b) Turquá NC Cipó N 2
Aristolochiaceae
Aristolochia triangularis Cham. Cipó-milome NC Cipó N 2
Asclepiadaceae
“Marmequé-bravo
Asclepia curassavica L. R Erva N 2
amendoim-bravo”
Asteraceae
Achyrocline satureoides (Lam.) DC. Marcela, Marcelinha R Erva N 1
Ageratum conyzoides L. Mentrasto R Erva E 5
Artemisia verlotorum Lamotte Doril (b) R Arbusto E 1
Baccharis dracunculifolia DC. Vassora-branca R Erva N 1
Baccharis sp. Carqueja NC Arbusto N 1
Baccharis trimera L. Carqueja NC Arbusto N 3
Bidens pilosa L. Picão R Erva N 2
Cipó-cruz,
Calea pinnatifida Less. NC Cipó N 5
picãozinho, aruca
Chaptalia nutans (L.) Polakowsky Dente-de-leão R Erva N 1
Eclipta alba (L.) Hassk. Erva-de-bicho (b) NC Erva N 1
Elephantopus mollis Kunth Sussuaiá R Erva N 1
Eupatorium maximilianii Schrad. “Marva-preta” R Erva N 1
Mikania glomerata Sprengel Guaco C Arbusto N 1
Mikania micrantha H. B. K. Quarô NC Cipó N 2
Polymnia cf. “Marcasada” NC Erva - 1
Maria-mole,
Senecio brasiliensis Less. NC Erva N 4
corta-veneno
Cravo, cravo-de-
Tagetes erecta L. C Erva E 2
defunto
... continuação
Desmodium adscendens (Sw.) DC.
Prega-prega R Erva N 1
Prodr.
Flacourtiaceae
Casearia silvestris Sw. Erva-de- NC Árvore N 3
-macuco, rabo-
-de-burro
Gleicheniaceae
Gleichenia sp Samam- NC Erva N 1
baiazinha
Iridaceae
Eleutherine bulbosa (Mill.) Urb. Jabutitana C Erva E 2
Lamiaceae
Plectranthus ornatus Codd. Boldo C Arbusto E 1
Solanaceae
Solanum cf. pseudoquina A. St.
Quina-branca C Árvore N 3
– Hil.
Tomatinho-
Lycopersicum sculentum L. -azedo, C Erva E 3
tomatinho
continua...
56 Gonçalves-Costa, M. A. et al.
... continuação
Physalis angulata L. Papova R Arbusto N 1
Solanum aculeatissimum Jacq. Juá R Erva N 1
Maria-preta,
Solanum americanum Miller R Erva N 2
erva-moura
Verbenaceae
Lantana camara L. “Marmequé” R Erva N 1
“Erva-cidrera”,
Lippia alba (Mill.) N. E. Br. C Arbusto N 3
Pratudo
Stachytarpheta cayennensis (Rich.)
Gerbão R Erva N 4
Vahl
Verbena litoralis H. B. K. Fé-da-terra NC Erva N 4
Vitaceae
Cissus sicyoides L. Guariri NC Cipó N 2
Zingiberaceae
Mapoleão,
Hedychium coronarium J. Konig NC Erva E 2
Napoleão
Caetezinho,
Renealmia sp. NC Erva N 5
pacová, capixu
Abreviaturas: (1) Forma de ocorrência: Ruderal (R), Não cultivada (NC), Cultivada (C). (2) Origem:
Nativa do Brasil (N), Exótica (E).
Com relação aos nomes vulgares das plantas coletadas, optou-se em formar
uma nomenclatura de forma a respeitar o modo de pronúncia utilizado pelos
informantes. As plantas seguidas das letras (a) e (b) são plantas de mesmo nome
popular e espécies diferentes, como foi o caso do doril, erva-de-bicho e sabugueiro,
ou ainda espécies diferentes com nomes populares também diferentes, como
ocorreu com o gênero Phylodendron.
Houve a citação de algumas espécies com nomes semelhantes a medicamento,
como ocorreu com o doril, penicilina e estomalina. Todas essas plantas são cultivadas,
penicilina e estomalina, ou nasce de forma espontânea, doril (b) no quintal da casa
e tem larga utilização. A associação com o nome do medicamento talvez se deva à
semelhança de indicação de uso das plantas com os respectivos medicamentos de
uso consagrado e aceito popularmente.
Aspectos botânicos das plantas medicinais usadas por especialistas locais em Iporanga-SP 57
Hábito de crescimento
Quanto aos hábitos de crescimento das plantas de uso medicinal (Figura 3),
são predominantemente herbáceos (48%), arbustivos (23%), arbóreos (18%), cipós
(9%) e epífitas (2%).
A maior predominância do hábito herbáceo, provavelmente, está relacionada
com o local e facilidade de coleta e manuseio das plantas, ou ainda à limitação física
dos informantes. Mesmo o ambiente sendo favorável para o hábito arbóreo e cipó,
devido à grande quantidade de áreas naturais protegidas próximas à cidade, o local
de coleta dá-se no entorno das casas dos informantes e vizinhança.
Conclusões
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CAPÍTULO 3
FLORA DO VALE DO RIBEIRA:
LISTAGEM DAS ANGIOSPERMAS
João Vicente Cofani-Nunes1, Erick Willy Weissenberg2
Introdução
Material e Método
O projeto tem como área de estudo o Vale do Ribeira do Estado de São Paulo,
abrangendo assim toda a Bacia Hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape e Litoral Sul.
“Check-list” e Banco de Dados das Espécies de Angiospermas do Vale do Ribeira.
O levantamento das espécies ocorrentes no Vale do Ribeira foi realizado por
meio da compilação de artigos, livros, dissertações e teses, obtida por meio da rede
mundial de computadores ou diretamente nas instituições de ensino e pesquisa.
A partir da compilação das publicações, foi criado o “Banco de Dados das Es-
pécies do Vale do Ribeira”, que foi organizado em uma planilha de dados montada
no programa Microsoft Office EXCEL.
A listagem final das espécies de Angiospermas resulta da análise do Banco de
Dados das Espécies do Vale do Ribeira.
As famílias e gêneros seguem a publicação de Souza e Lorenzi (2008), basea-
da na proposta de APG II.
A grafia dos gêneros e espécies, bem como os autores das espécies foram
revisados utilizando obras de referência, como a Flora de São Paulo e “sites” espe-
64 Cofani-Nunes, J. V. & Weissenberg, E. W.
Resultados e Discussão
... continuação
Lepidagathis diffusa (Ness) Lindau Porcelia macrocarpa (Warm.) R.E.Fr.
Mendoncia coccinea Vell. Rollinia cf. dolabripetala (Raddi) R.E.Fr.
Mendoncia velloziana Mart. Rollinia emarginata Schltdl.
Pseuderanthemun sp Rollinia mucosa (Jacq.) Baill.
Ruellia schaueriana (Nees) Voss Rollinia parviflora A.St.-Hil.
Ruellia solitaria Vell. Rollinia rugulosa Schltdl.
Staurogyne mandioccana Kuntz Rollinia sericea (R.E.Fr.) R.E.Fr.
Stenandrium sp Rollinia sylvatica (A.St-Hil) Mart.
Stenandrium cf. tenellum Nees Xylopia brasiliensis (L.) Spreng.
Agavaceae Fuoucraea foetida (L.) Haw. Xylopia langsdorffiana A.St.-Hill & Tul.
Fourcraea gigantea Vent.
Apiaceae Apium leptophyllum (Pears.) F. Muell.
Echinodorus grandiflorus (Cham. &
Alismataceae (Umbelliferae) Centella asiatica (L.) Urb.
Schldt.) Micheli
Echinodorus macrophyllus (Kunth) Micheli Phyllanthus niruri L.
Apocynaceae Achyricline satureoides (Lam.) D.C.
Sagittaria montevidensis Cham. & Schltdl
Allamanda schottii Pohl.
Alstroemeriaceae Bomarea edulis (Tussac) Herb.
Araujia sericifera Brot.
Bomarea salsilloides M.Roem. Araujia sericifera f. calycina (Decne.)
Malme
Amaranthaceae Alternanthera littoralis P. Beuv.
Asclepias curassavica L.
Blutaparon portulacoides (A. St.- Hil.)
Mears Aspidosperma aff macrocarpum Müll.
Celosia brasiliensis Moq. Arg.
Celosia grandifolia Moq. Aspidosperma camporum Müll. Arg.
Chamissoa acuminata Mart. Aspidosperma compactinervium Kuhlm
Cyathula prostata (L) Blume Aspidosperma cylindrocarpon Müll Arg.
Gomphrena vaga Mart. Aspidosperma olivaceum Müll. Arg.
Hebanthe paniculata Mart. Aspidosperma parvifolium A. DC.
Iresine diffusa Humb. & Bonpl. Aspidosperma polyneuron Müll Arg.
Iresine portulacoides Moq. Aspidosperma ramiflorum Müll. Arg.
Amaryllidaceae Crinum erubescens Kunth Aspidosperma warmingii Müll. Arg.
Crinum salsum Ravenna Condylocarpon isthmicum (Vell.) A.DC.
Hippeastrum aulicum (Ker-Galen) Herb. Condylocarpon rauvolffiae (DC.) Müll. Arg.
Hippeastrum blossfeldiana Van Schepen Ditassa burchelli var. vestita (Malme)
Fontella
Hippeastrum reticulatum Herb.
Forsteronia leptocarpa (Hook. & Arn.) A.
Anacardiaceae Schinus terenbinthifolius Raddi DC.
Tapirira guianensis Aubl. Forsteronia refracta Müll. Arg.
Anacardium occidentale L. Forsteronia rufa Müll. Arg.
Annonaceae Annona cacans Warm. Gonioanthela axillaris (Vell.) Font & Schw.
Annona glabra L. Gonioanthela hatschbachii Fontella &
Lamare
Annona montana Macfad
Malouetia arborea (Vell.) Miers.
Duguetia lanceolata A. St.-Hil.
Mandevilla aff. pendula (Vell.) Woodson
Guatteria acutipetala R.E.Fr.
Mandevilla funiformis (Vell.) K. Schum.
Guatteria australis A.St.-Hill
Mandevilla hirsuta (Rich) K. Schum.
Guatteria dusenii R. E. Fr.
Mandevilla scabra K. Schum.
Guatteria elliptica R.E.Fr.
Marsdenia macrophyla (Humb. & Bonpl
Guatteria fruticosa R.E.Fr. ex Schult.) E. Fourn.
Guatteria gomeziana A.St.Hil. Matelea barrosina Fontella
Guatteria hilariana Schltdl.
Matelea denticulata (Vahl.) Font. & Schw.
Guatteria nigrescens Mart.
Matelea orthosioides (E. Fourn.) Fontella
Guatteria macropus Mart.
Continua...
Flora do Vale do Ribeira: Listagem das Angiospermas 67
... continuação
Oxypetalum alpinum (Vell.) Font & E.A. Anthurium cf. longifolium Kunth
Schw.
Oxypetalum alpinum var. pallidum Anthurium jureanum Aath. & Olaio
(Hoehne) Fontella & E.A. Schwarz Anthurium pentaphyllum (Aubl.) G. Don.
Oxypetalum banksii Schult.
Anthurium cf. rudgeanum Schott
Oxypetalum hoehnei Malme.
Anthurium scandens (Aubl.) Engl.
Oxypetalum pachyglossum Decne.
Anthurium variabile Kunth
Oxypetalum pedicellatum Decne. Asterostigma lividum (Lodd.) Engl.
Oxypetalum tomentosum var. parvifolium Heteropsis rigidifolia Engl.
(Fourn.) Font & Schw
Oxypetalum tomentosum Wight ex Hook. Heteropsis oblongifolia Kunth
... continuação
Astrocaryum aculeatissimum (Schott) Eupatorium suaveolens H.B.K.
Arecaceae Burret
Eupatorium vauthieranum DC
(Palmae) Attalea dubia Burret
Eupatorium vitalbae DC.
Bactris setosa Mart.
Gochnatia polymorpha (Less.) Cabr.
Bactris vulgaris Barb.Rodr.
Matricaria chamomilla L.
Butia cf capitata (Mart.) Beccari Mikania conferta Gardn.
Diplothemium sp. Mikania cordifolia Willd.
Euterpe edulis Mart. Mikania glomerata Spreng.
Balanophoraceae Lophophyton leandrii Eichler & Urban Tabebuia obtusifolia (Cham.) Bureau
Tabebuia serratifolia (Vahl) G.Nicholson
Begoniaceae Begonia anguta Vell
Tabebuia umbellata (Sond.) Sandwith
Begonia bidentata Raddi
Begonia capanemae Brade Schlegeliaceae Schlegelia parviflora (Oerst.) Monach
Begonia convolvulaceae A.DC. Boraginaceae Cordia curassavica (Jacq.) Roem & Schult.
Begonia fernancosteae Irmsch. Cordia discolor Cham.
Begonia fischeri Schrank Cordia ecalyculata Vell.
Begonia fructicosa Klotzsch
Cordia magnollifolia Cham.
Begonia herbacea VelL.
Cordia sellowiana Cham.
Begonia itatinensis Irmsch. ex Brade
Cordia silvestris Fresen.
Begonia jureiensis S. Gomes da &
Mamede Cordia taguayensis Vell.
Begonia lanceolata Vell. Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. & St.
Begonia nuda Irmsch. Cordia verbenacea DC.
Begonia pulchela Raddi.
Symphitum officinale L.
Begonia radicans Vell.
Tournefortia bicolor Sw.
Begonia reniformis Dryand
Tournefortia gardneri A. DC.
Begonia toledoana Handro
Brassicaceae
Begonia valdensium A.DC Lepidium virginicum L.
(Cruciferae)
Adenocalymma comosum (Cham.) Bur. & Bromeliaceae Aechmea cylindrata Lindm.
Bignoniaceae K. Schum.
Aechmea distichantha Lem.
Adenocalymma hatschbachii A.H. Gentry
Aechmea caudata Lindm.
Adenocalymma marginatum DC.
Aechmea coelestis (K.Koch) E.Morren
Adenocalymma trifoliatum (Vell.)
Delaroche Aechmea gamosepala Wittm.
Amphilophium paniculatum (L.) H.B.K. Aechmea gracilis Lindm
Anemopaegma chamberlaynii Bureau & Aechmea nudicaulis (L.) Griseb.
K. Schum.
Clytostoma cf. sciuripabulum Bureau & Aechmea organensis Wawra
K.Schum. Aechmea ornata Barker
Jacaranda cf. montana Morawetz
Aechmea pectinata Baker
Jacaranda macrantha Cham. Ananas ananassoides (Baker) L. B. Sm.
Jacaranda puberula Cham. Ananas bracteatus (Lindl.) Schult f.
Lundia virginalis var. nitídula (DC.) Ananas bracteatus var variegata
A.H.Gentry
Ananas comosus (L.) Merr.
Macfadyena mollis Seem.
Ananas fritzmuelleri Camargo
Machaerium sp.
Bilbergia distachia (Vell.) Mez
Mansoa cf. difficilis (Cham.) Bureau & Billbergia amoena (Lodd.) Lindl.
K.Schum.
Parabignonia unguiculata (Vell.) Billbergia zebrina (Herb.) Lindl.
A.H.Gentry Bromelia antiacantha (Beer) Bertol.
Paragonia pyramidata (Rich.) Bureau
Canistropis bilbergioides (Schultt. f.) Leme
Pithecoctenium echinatum (Jacq.) Baill.
Stizophyllum perforatum (Cham.) Miers. Canistrum cyathiforme (Vell.) Mez.
Tabebuia alba (Cham.) Sandwith Canistrum lindenii Mez
Tabebuia avellanedae Lorentz ex Griseb Canistrum superbum (Lindm.) Mez
Tabebuia botelhensis Gentry Catopsis berteroniana (Schult. f.) Mez
Tabebuia cassinoides DC. Catopsis sessiliflora (Ruiz. & Pav.) Mez.
Tabebuia heptaphylla (Well.) Toledo Dyckia encholirioides (Gaudich.) Mez
Continua...
70 Cofani-Nunes, J. V. & Weissenberg, E. W.
... continuação
Continua...
Flora do Vale do Ribeira: Listagem das Angiospermas 71
... continuação
Cannaceae Canna brasiliensis Rosc. & Spreng. Hirtela angustifolia Schott ex Spreng.
Continua...
72 Cofani-Nunes, J. V. & Weissenberg, E. W.
... continuação
... continuação
Continua...
Flora do Vale do Ribeira: Listagem das Angiospermas 75
... continuação
... continuação
Continua...
Flora do Vale do Ribeira: Listagem das Angiospermas 77
... continuação
Inga cilyndrica (Vell.) Mart. Lytharaceae Cuphea balsamona Cham. & Schltdl.
Inga edulis Mart. Cuphea calophylla Chamb. & Schltdl.
Cuphea calophyll subps. menostemon
Inga edwallii (Harms) T.D. Penn. (Koehne)
Cuphea carthagenensis (Jacq) J.F. Macbr.
Inga laurina (SW.) Wild
Lafoensia glyptocarpa Koehne
Inga lenticellata Benth.
Loganiaceae Strychnos brasiliensis (Spreng.) Mart.
Inga marginata WilL.
Strychnos trinervis (Vell.) Mart.
Inga praegnans T. D. Penn.
Strychnos acuta Progel in Mart.
Inga sellowiana Benth
Spigelia beyrichiana Cham. & Scltdl.
Inga sessilis (Vell.) Mart. Spigelia humboldtiana Cham. & Schltdl.
Inga striata Benth. Spigelia scabra Cham & Schultdl.
Inga vulpina Mart. Spigelia tetraptera Taub.
Macrosamanea pedicellaris (DC.) Kleinh. Spigela pusilla Mart.
Mimosa bimucronata (DC.) O Kuntze. Loranthaceae Psittacanthus dichrous Mart.
Continua...
78 Cofani-Nunes, J. V. & Weissenberg, E. W.
... continuação
Continua...
80 Cofani-Nunes, J. V. & Weissenberg, E. W.
... continuação
Continua...
Flora do Vale do Ribeira: Listagem das Angiospermas 81
... continuação
Continua...
82 Cofani-Nunes, J. V. & Weissenberg, E. W.
... continuação
... continuação
Continua...
Flora do Vale do Ribeira: Listagem das Angiospermas 85
... continuação
Continua...
86 Cofani-Nunes, J. V. & Weissenberg, E. W.
... continuação
Continua...
Flora do Vale do Ribeira: Listagem das Angiospermas 87
... continuação
Continua...
88 Cofani-Nunes, J. V. & Weissenberg, E. W.
... continuação
Coccocypselum hasslerianum Chodat Psychotria cf. birotula L.B. Sm. & Downs
Diodia dasycaephala Cham. & Schltdl. Psychotria leiocarpa Cham & Schltdl.
Diodia gymnocephala (DC.) K. Schum. Psychotria leitana C.M. Taylor
Diodia radula Cham.& Schdtl.
Psychotria longipes Mull. Arg.
Diodia teres Walter
Emmeorhiza umbelata (Spreng.) K. Psychotria mapoureoides DC.
Schum.
Faramea montevidensis (Cham. & Schltdl.) Psychotria myrianta Müll. Arg
DC.
Faramea morsoniana Müll. Psychotria nemorosa Gardner
Psychotria birotula L.B. Sm. & Downs Rudgea coriacea (Spreng.) K.Schum.
Continua...
Flora do Vale do Ribeira: Listagem das Angiospermas 89
... continuação
Rustia formosa (Cham. & Schlecht.) KL. Phoradendron perrottetii (DC.) Eichl.
Sabicea villosa Willd. ex Roem. & Schult. Phoradendron piperoides (Kunth) Trelase
Continua...
90 Cofani-Nunes, J. V. & Weissenberg, E. W.
... continuação
Pouteria psammophila (Mart.) Radlk. Solanum delicatulum L.B. Sm. & Downs
Continua...
Flora do Vale do Ribeira: Listagem das Angiospermas 91
... continuação
Thymelaeaceae Daphnopsis beta Taub. Violaceae Amphirrox longifolia (A. St.-Hil) Spreng.
Trigoniaceae Trigonia nivea Cambess. Vitaceae Cissus cf. campestris (Baker) Planch.
Typhaceae Typha angustifolia Aubl. Cissus verticillata (L.) Nicolson & C.E.Jarvis
Conclusões
Agradecimentos
Referências Bibliográficas
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dela. Biota Neotropica 5(1), p. 1-20.2005.
CAPÍTULO 4
CONSERVAÇÃO E USO SUSTENTÁVEL DA
BIODIVERSIDADE FLORESTAL NA MATA
ATLÂNTICA DO VALE DO RIBEIRA
Eliana Cardoso-Leite1, Diego Sotto Podadera2, Juliana Cristina Peres3
1, 3. UFSCar- Câmpus Sorocaba- Rod. João Leme dos Santos, km 110, Sorocaba-SP, Brasil. CEP 18052-
780, eliana.leite@ufscar.br; 2. Faculdade de Ciências Agronômicas/UNESP- Botucatu. Rua José Barbosa
de Barros, 1780, 18610-307 Botucatu-SP.
96 Leite, E. C. et al.
Introdução
Material e métodos
Resultados e discussão
Conservação e uso sustentável da biodiversidade florestal na Mata Atlântica do Vale do Ribeira 99
Campomanesia guaviroba – GUABIROBA- frutos com polpa doce com alto teor
vitamínico, podendo ser consumidos in natura, em forma de doces, geleias, sucos
e licores (Lorenzi, 1992).
Garcinia gardneriana- BACUPARI- fruto com polpa comestível, a casca contém tani-
no, utilizado para curtir couro, e a resina tem uso medicinal para doenças urinárias
Conservação e uso sustentável da biodiversidade florestal na Mata Atlântica do Vale do Ribeira 101
(Lorenzi, 1992; Damaceno Jr., 2009).
Madeireiras:
Cabralea canjerana – CANJERANA- a madeira é moderadamente pesada, resisten-
te à umidade e a insetos. Indicada para construção de móveis, esculturas, constru-
ção civil (Lorenzi, 2002).
Figura 3 - Indivíduo Dahlstedtia pentaphylla (Taub )Burk., uma espécie rara, presente
no Parque Estadual da Caverna do Diabo, Mosaico do Jacupiranga-SP.
Foto: Cardoso-Leite, 2006.
Pode-se observar que a grande maioria das espécies raras são tardias, e
existem várias espécies raras nas famílias Myrtaceae e Fabaceae.
Os resultados mostraram também a existência (Tabela 3) de doze espécies
com algum registro de ameaça à extinção.
Considerações finais
AIDAR, M.P.M.; GODOY, J.R.L.; BERGMANN,J. Atlantic Forest sucession calcareous soil, Parque
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denominações por subdivisão, reclassifica, exclui e inclui áreas que especifica, institui o Mosaico
de Unidades de Conservação do Jacupiranga e dá outras providências. Publicada no DOE em
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2005.
110
CAPÍTULO 5
ViABILIDADE DA COMPOSTAGEM PARA
O APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS DAS
AGROINDúsTRIAS DO PALMITO E
DA banana no vALE DO RIBEIRA-SP
Introdução
Material e Métodos
Resultados e Discussão
Conclusões
Agradecimentos
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Introdução
E. edulis é uma palmeira com frutos drupáceos, esféricos, de cor quase preta
ou negro-vinosa que, quando maduros, possuem mesocarpo carnoso muito fino,
unisseminado, com embrião lateral e albume abundante e homogêneo (Reitz,
1974). Em condições nativas, o fruto da palmeira pesa em média 1 grama, e as
infrutescências podem atingir 5 kg, tendo em média cerca de 3 kg (Reis, 1994).
Muitos fatores podem influenciar na formação de frutos, como a disponibilidade de
pólen, polinizadores e as condições ambientais (Mantovani; Morellato, 2000). Os
indivíduos reprodutivos podem apresentar de uma a cinco inflorescências por planta,
variação esta que deve estar relacionada à sua localização, idade e características
genéticas (Reis, 1995). A produção de frutos da palmeira é considerável, uma
planta é capaz de produzir até 8kg de frutos (800 frutos/kg) por frutificação, o que
corresponderia a quase 6.500 sementes por planta (Reitz et al., 1978).
Segundo Barroso et al. (2010), a palmeira-juçara ou Jiçara (Euterpe edulis
Martius), como é conhecida regionalmente, é considerada muito importante no
cotidiano das famílias quilombolas que a utilizam de diversas maneiras: o estipe,
para construção de casas e barracões; as folhas, para coberturas de viveiros; as
sementes, na produção de mudas; a seiva, de maneira medicinal para desinfetar
cortes e picadas de cobra, e, principalmente, o palmito, para alimentação e
comercialização. Embora os quilombolas não façam uso tradicional dos frutos em
sua dieta alimentar (Barroso, 2010), sua polpa é muito nutritiva (Silva et al., 2001)
e pode ser valorizada assim como é a polpa de açaí-do-norte (Euterpe oleracea
Martius) (Mac Fadden, 2005; Vivan, 2002).
Euterpe edulis é uma das espécies mais comuns nos quintais das comunidades
quilombolas do Vale do Ribeira (Barroso, 2010). O quintal pode ser compreendido
como um espaço de uso múltiplo, que fica próximo à residência de um grupo
familiar (Brito, 1996). Os quintais podem desempenhar múltiplas funções e servir a
diversos fins, alguns deliberadamente estabelecidos pelos proprietários, outros que
são consequência não planejada, direta ou indireta, do manejo e das associações
das plantas presentes (Amorozo, 1996).
Vários autores salientam o grande potencial dos quintais para contribuir na
dieta das famílias, principalmente as de baixa renda (Madaleno, 2000; Wezel;
Bender, 2003, entre outros). Frequentemente, cultivam-se nestas áreas plantas
A Palmeira Juçara (Euterpe edulis Mart.) em quintais quilombolas do Vale do Ribeira 127
alimentícias, como hortaliças, condimentos, árvores frutíferas, entre outras.
Seus produtos proporcionam uma importante contribuição para diversificar a
dieta e aumentar sua qualidade nutricional, já que são ricos em micronutrientes
(Amorozo, 1981).
Em alguns países, os quintais fornecem aporte extra e variado de alimentos
e outros produtos e, por vezes, podem também representar um pequeno ganho
econômico (Sagaroussi, et al., 1990); assim, a produção do quintal configura-
se em uma alternativa interessante para poupar ou obter renda. No entanto,
muitas vezes, este potencial não é aproveitado, seja por desperdício, seja por
desinformação, havendo neste aspecto um grande campo para a atuação no sentido
de maximizar a utilização dos quintais para produção de alimentos e outros itens
para auto-consumo e comercialização (Ambrósio et al., 1996).
Nos últimos anos, a extração da polpa dos frutos da palmeira-Juçara vem
surgindo como uma alternativa na obtenção de renda para comunidades rurais
da Mata Atlântica (Vivan, 2002; Mac Fadden, 2005; Silva Filho, 2005). A
transformação dos frutos em polpa valoriza um produto não madeirável da
floresta Atlântica que pode ser produzido em quintais e sistemas agroflorestais,
proporcionando ao pequeno produtor uma nova opção de investimento na produção
familiar (Silva Filho, 2005). Além de ser uma possibilidade de complemento da
renda familiar, a colheita dos frutos, ao contrário da exploração do palmito, mantém
os indivíduos vivos capazes de se reproduzirem anualmente.
Atualmente, as pesquisas sobre a palmeira-juçara vêm-se direcionando a
outras demandas de exploração da espécie, e o manejo e a produção de frutos para
polpa surgiram como uma forma de aliar a oportunidade de geração de renda para
as comunidades locais da Mata Atlântica à conservação da biodiversidade (Mac
Fadden, 2005; Troian, 2009).
Na região do Vale do Ribeira, apesar de existirem algumas iniciativas
governamentais, não governamentais e de extensão universitária sobre a produção
de frutos de juçara para polpa, em pequenas propriedades rurais, ainda faltam
pesquisas que estudem os quintais como unidade produtiva de manejo de frutos
de juçara. Assim, os objetivos deste trabalho foram caracterizar a estrutura e o
manejo de populações de juçara e avaliar a produção de frutos e polpa em quintais
de comunidades quilombolas do Vale do Ribeira-SP, aspectos importantes a serem
discutidos na abordagem da utilização dos quintais como alternativa de ganho
econômico para as comunidades que vivem na região.
Materiais e Métodos
(a) (b)
Figura 1 - Alocação de parcela e medição de CAP dos indivíduos com estipe igual
ou acima de 1,3m (Figura 1.a); alocação de subparcela para medição de
altura de inserção da folha-flecha (Figura 1.b) quintal C, comunidade de
Ivaporunduva. Eldorado- SP. (Foto: Vinicius Klier)
(a) (b)
(c)
1 O beneficiamento do frutos de Juçara ocorreu em parceria com Leandro Francisco do Carmo, que
desenvolve pós-doutorado na USP, sob supervisão da Professora Marta Helena Fillet Spoto, do Depar-
tamento de Agroindústrias Alimento e Nutrição, e coordena os Projetos FAPESP nº2006/59439-8 e
nº2008/50435-5 “PROCESSAMENTO E SISTEMA DE GARANTIA DE QUALIDADE DA CADEIA DE PRODU-
ÇÃO DA POLPA DE JUÇARA (Euterpe edulis)”. O processo foi realizado com a ajuda de quatro esta-
giárias do Laboratório de Frutas e Hortaliças da ESALQ/USP: Mirela Félix dos Santos, Máira Fernanda
Silveira, Mayla Santos e Deisy Hakamoto, sob orientação de Leandro Franscisco do Carmo.
A Palmeira Juçara (Euterpe edulis Mart.) em quintais quilombolas do Vale do Ribeira 131
pa resultante de cada lote, de cada quintal, foi medida, homogeneizada, envasada
e identificada em sacos plásticos de 200 ml (Figura 5.b), sendo levadas rapidamente
ao freezer para congelamento.
(a) (b)
Análise de dados
A caracterização das áreas de juçara manejadas foi feita considerando à idade
da população, à altura média do dossel, ao método de implantação, ao manejo
realizado e à frequência de animais domésticos na área. A altura média do dossel
foi calculada a partir da estimativa da altura dos indivíduos adultos levantados nas
parcelas.
Para a análise da estrutura da população, os indivíduos levantados nas
parcelas e subparcelas tiveram suas densidades apresentadas segundo os estágios
de tamanho utilizado por Reis (1995), o qual descreve um estudo detalhado da
dinâmica de uma população de palmeiras-juçara, na Fazenda Faxinal, município de
Blumenau-SC, como mostra a Tabela 1.0.
132 Barroso, R. M. et al.
nas florestas, e colher o palmito para o consumo doméstico. Desde 2006, quando
começaram a comercializar para programas de repovoamento da espécie, os pro-
dutores dessas áreas estão realizando o manejo, visando à produção de sementes.
As áreas A, B e C diferenciam-se principalmente pela maneira como essas
populações de Juçaras foram implantadas, à origem das sementes e mudas, e
às práticas de manejo frequentemente realizadas por seus moradores, desde a
implantação das primeiras árvores.
Segundo informações dos produtores das áreas, as palmeiras-juçara recebem
visitas de uma grande diversidade de aves, e ao se alimentarem dos frutos, dispersam
as sementes de juçara trazidas de outras áreas, contribuindo com a regeneração da
espécie nos quintais.
Assim, nas áreas A, B e C, as populações de Juçara foram implantadas a partir
de sementes coletadas de matrizes de populações naturais selvagens, do interior
de unidades de conservação, localizadas próximas às comunidades quilombolas. A
implantação dessas populações foi promovida principalmente pela ação humana,
porém com a contribuição das aves, que também realizaram a dispersão de
sementes nas áreas. O modo inicial de implantação dessas populações influenciou
no espaçamento entre as árvores que hoje formam o dossel, a densidade dos
indivíduos estabelecidos e a quantidade de luz que chega no sub-bosque.
Os produtores das áreas A e B, frequentemente, realizam a roçada, que se
caracteriza como uma limpeza da área e, temporariamente, evita a competição
com outras plantas que regenerem no local, principalmente nos meses chuvosos.
O produtor da área C, além da roçada, também realiza o desbaste, que consiste na
retirada de indivíduos do sistema, como a Juçara ou outras espécies que podem ter
seu desenvolvimento prejudicado por falta de espaço. Segundo Murawski (1995),
a prática do manejo de determinada espécie geralmente promove alterações nos
padrões espaciais dos indivíduos dentro de suas populações.
Nota-se a diferença das densidades de plântulas e de indivíduos jovens entre
áreas avaliadas (Tabela 1). A área A, apesar de apresentar a maior quantidade de
plântulas, não possui indivíduos jovens. A ausência de indivíduos jovens nesta
área deve-se à prática da roçada que ocorreu de forma frequente durante os anos
anteriores, o que certamente comprometerá a dinâmica da população e o manejo
a longo prazo a partir do momento que os indivíduos adultos envelhecerem, daqui
a alguns anos.
As variações de densidades nos diferentes estágios de tamanhos entre
as áreas avaliadas deve-se principalmente à intensidade das intervenções e às
práticas realizadas pelos produtores. Considerando que o manejo sustentável
dessas populações a longo prazo representa uma alternativa interessante para os
produtores estas áreas, observamos que dentre as áreas avaliadas a área C é a que
apresenta maior potencial de manejo sustentável por possuir indivíduos distribuídos
nas diversas classes de tamanhos: plântulas, jovens, imaturos e adultos.
A Palmeira Juçara (Euterpe edulis Mart.) em quintais quilombolas do Vale do Ribeira 135
Tabela 1 - Densidade de indivíduos de Euterpe edulis por estágio de tamanho,
por parcela (300m²), em áreas manejadas em quintais quilombolas
das comunidades de Sapatu (A e B) e Ivaporunduva (C). Município de
Eldorado-SP, 2008.
Áreas manejadas A B C
Plântulas 270 0 135
Jovens 1 0 8 0
Jovens 2 0 60 30
Imaturos 1 0 0 20
Imaturos 2 11 36 28
Adultos 34 20 25
Agradecimentos
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CAPÍTULO 7
DEGRADAÇÃO ESTRUTURAL DO SOLO
EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DA
SUB-BACIA DO RIO RIBEIRA DE IGUAPE
Reginaldo Barboza da Silva1, Piero Iori 2, Moacir de Souza Dias Junior2,
Pedro Antonio Martins4
Introdução
Material e métodos
Figura 2 - Vista aérea da área experimental (a); área de cultivo de banana (b), e área
de pastagem e uso silvipastoril (c).
144 Silva, R. B. da et al.
Para a coleta das amostras indeformadas, isto é, não perturbadas, foi utili-
zado o amostrador Uhland com anel volumétrico (69,7 mm de diâmetro e 25 mm
de altura). As amostras deformadas foram coletadas com o auxílio de um trado
holandês e acondicionadas em sacos plásticos. As análises foram realizadas no La-
boratório de Física e Mecânica do Solo da Universidade Estadual Paulista (UNESP),
Câmpus experimental de Registro, e no Laboratório de Física do Departamento de
Ciência do Solo da Universidade Federal de Lavras (UFLA).
A caracterização física e química do solo está apresentada na Tabela 1. A tex-
tura e a argila dispersa em água (ADA) foram realizadas pelo método da pipeta (Day,
1965), índice de floculação (IF) e teor de matéria orgânica (MO), segundo Embra-
pa (1997) e densidade de partículas pelo método do picnômetro (Blake; Hartge,
1986). A caracterização química (Tabela 1) foi realizada com base nos elementos no
extrato do ataque sulfúrico, segundo Embrapa (1997).
Em que:
MO (%);
M = (S + A) x [(S + A) + AG], S (%); AF (%) e AG (%);
E = coeficiente de estrutura, Muito pequena = 1; Pequena granular = 2; Média a
grande granular = 3;
P = coeficiente de permeabilidade, Muito rápida = 1; Rápida = 2; Moderada = 3;
Lenta = 4; Muito lenta = 5; Imperfeitamente drenado = 6;
Al = teor de Al2O3 da extraído pelo ataque sulfúrico (%);
AT (%);
DMP = [(0,65 x AG) + (0,15 x AF) + (0,0117 x S) + (0,00024 x A)]/100, AG (%); AF (%);
S (%) e A (%);
R = AG x MO/100, AG (%);
Mm = S x (S + AF), S (g g-1) e AF (g g-1);
Fe = teor de Fe2O3 extraído pelo ataque sulfúrico (g g-1);
AF’ (g g-1).
146 Silva, R. B. da et al.
Resultados e discussão
Figura 4 - Valores médios de Densidade do solo inicial para os diversos usos do solo
avaliados. A barra de erros representa o erro-padrão da média.
Figura 5 - Teores médios de matéria orgânica para os diversos usos do solo avalia-
dos. A barra de erros representa o erro-padrão da média.
Figura 6 - Diâmetro médio ponderado (DMP) para os diversos usos do solo avalia-
dos. A barra de erros representa o erro-padrão da média.
Esses resultados indicam, mais uma vez, que a mata está sendo mantida no
lugar correto, já que este uso apresentou maiores valores de erodibilidade e, por-
tanto, maior suscetibilidade à erosão. A retirada do extrato vegetal para a incorpo-
ração de culturas poderá acarretar, futuramente, o depauperamento irreversível
deste solo. Logo, a mata está atuando na preservação deste solo. Vale ressaltar, ain-
da, que Mannigel et al. (2002) encontraram, para um Cambissolo Tb Eutrófico, em
São Paulo, valores da ordem de 0,0441 t ha h ha-1 Mj-1 mm de tolerância de perda,
para o horizonte A, valor este acima dos valores encontrados nos três usos do solo.
Conclusões
Agradecimentos
Referências bibliográficas
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154 Silva, R. B. da et al.
INTRODUÇÃO
larvas atingirem a salinidade adequada, sem que estas necessitem atingir o estuário
para ocorrer a eclosão das larvas.
As larvas de M. acanthurus e M. carcinus nascem como zoea e passam
por 10 e 12 estágios larvais, respectivamente (Choudhury, 1970; 1971a).
Em laboratório, o tempo de desenvolvimento larval é de 30-40 e 45-60 dias,
respectivamente (Valenti, 1985). Após a metamorfose, a maioria da população
de pós-larvas e juvenis irá migrar para água doce, onde ocorrerá o crescimento
e desenvolvimento dos animais até atingirem a fase adulta. A fêmea passa por
um período cíclico de maturação gonadal, que envolve 4 estágios: imaturo, em
maturação, maduro e esgotado (Figura 4) (Carvalho; Pereira, 1981; Valenti
et al., 1986). Acredita-se que os machos adultos sejam continuamente férteis.
No entanto, observa-se que machos adultos de mesmo tamanho apresentam
diferenças morfológicas e comportamentais significativas (Valenti, observação
pessoal), sugerindo a existência de morfotipos diferentes. Estes podem apresentar
características reprodutivas diferentes, como foi demonstrado para M. rosenbergii
(Ra’anan; Cohen, 1985).
Quando os ovários estão maduros, as fêmeas sofrem a muda pré-nupcial,
que é seguida pelo acasalamento. Este é sempre precedido por um comportamento
de corte, isto é, um ritual de movimentos e toques, importante para o
reconhecimento da espécie (Valenti, 1987). Durante a cópula, o macho deposita
um espermatóforo, que é uma massa gelatinosa contendo o sêmen, próximo
aos poros genitais femininos. Após algumas horas, os ovos vão sendo liberados e
fertilizados à medida que passam pelo espermatóforo. Estes são depositados na
câmara incubadora abdominal, onde permanecem aderidos aos pleópodos até que
ocorra a eclosão das larvas, fechando o ciclo (Figura 5).
As duas espécies apresentam características eurihalinas (Carvalho et
al. 1976; Genofre; Lobão, 1976; Coelho et al., 1978). Portanto, é possível a
ocorrência de indivíduos adultos habitando permanentemente a região estuarina
dos rios. Neste caso, o crescimento, a maturação e a reprodução podem ocorrer em
água salobra.
Hábitos e hábitat
Biologia populacional
Atividade pesqueira
As duas espécies são exploradas pela pesca artesanal nos rios das bacias do
Rio Amazonas, do Araguaia-Tocantins e do Atlântico Sul – trechos norte e nordeste,
nos açudes do semiárido do Nordeste, nos rios da bacia do baixo São Francisco
(Estados da Bahia, Alagoas e Sergipe) e nas bacias dos Rios Paraíba do Sul e Ribeira
de Iguape, da Bacia do Atlântico Sul – trechos sudeste e sul. Representam cerca de
15% da pesca de camarões de água doce do Brasil (New et al., 2000).
O Instituto de Pesca - Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Litoral
Sul - APTA/SAA, tem realizado estatísticas de pesca na região do Vale do Ribeira de
ambas as espécies, desde 1998. No entanto, os dados são provenientes somente
dos desembarques efetuados na cidade de Iguape, e há meses em que os mesmos
não foram obtidos.
A pesca de M. acanthurus na região do Vale do Ribeira visa ao comércio
para o consumo humano e para o mercado de iscas vivas para a pesca esportiva,
164 Bertini, G. & Valenti, W. C.
Peso em quilogramas
ConclusÕES
Referências bibliográficas
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CAPÍTULO 9
ESTATÍSTICA PESQUEIRA DO LITORAL SUL DE
SÃO PAULO – METODOLOGIA E RESULTADOS
Jocemar Tomasino Mendonça1, Adir Gomes Cordeiro2
Introdução
A coleta de dados sobre pesca tem como objetivo gerar informações estatís-
ticas da pesca com vistas a subsidiar estudos do desempenho da atividade pesquei-
ra, avaliar os estoques em explotação, identificar os potenciais pesqueiros alterna-
tivos e realizar análises setoriais diversas, voltadas para a gestão sustentável dos
1. Oceanógrafo – Pesquisador do Instituto de Pesca – SAA, Av. Prof. Wladmir Besnard, s/n., C. P. 61,
Cananeia (SP), Brasil, e-mail: jmendonca@pesca.sp.gov.br, 2. Geógrafo – Monitor do Instituto de Pesca
- SAA SAA, Av. Prof. Wladmir Besnard, s/n., C. P. 61, Cananeia (SP), Brasil, e-mail: adirgomescordeiro@
yahoo.com.br.
172 Mendonça, J. T. & Cordeiro, A. G.
Material e Métodos
Metodologia de coleta
Para o município de Cananeia, o monitoramento dos desembarques e da
produção dividiu a atividade em pesca industrial (mar a fora) e pesca artesanal (pes-
ca costeira e pesca estuarino-lagunar), conforme proposto por Mendonça (1998),
apresentando sistema de coleta de dados ajustados de acordo com o tipo de pesca
(Mendonça & Miranda, 2008).
Para a pesca industrial (mar a fora), foram realizadas entrevistas diárias com
os pescadores durante os desembarques, pelos agentes de campo do Instituto de
Pesca, obtendo dados de produção, esforço em dias efetivos de pesca, local e pro-
174 Mendonça, J. T. & Cordeiro, A. G.
Tabela 1 - Fatores de converção para categorias de produtos que não foram obtidas
com unidade de quilograma.
Produto Quilogramas Peças p/ kg Dúzias
Caranguejo (dúzia) 2,074 - -
Ostra (dúzia) 0,830 - -
Ostra (caixa) - - 35
Ostra (pacote) - - 9
Camarão-legítimo ou pitu (peças) - 104 -
Mexilhão (litro) 0,700 - -
Mossorongo (peças) (juvenis de Synbranchus sp.) - 90,9 -
Resultados e Discussão
Coleta de dados
As coletas de dados pesqueiros no litoral sul iniciaram em 1967, em Cana-
neia, 1976 em Iguape e 1997 em Ilha Comprida, havendo distintos sistemas de co-
letas ao longo do período.
Em Cananeia, inicialmente, eram feitas através do serviço na CEAGESP, sen-
do o entreposto que centralizava todos os desembarques comerciais do município.
Esta centralização era oriunda da obrigação das embarcações, através da lei, estan-
do em vigor até 1988 (Mendonça, 1998). Com a revogação da lei, os desembar-
ques passaram a ocorrer em diversos locais, ficando pulverizados em toda a área
que margeia o porto de Cananeia. No período de 1988 a 1994, observa-se uma
diminuição da produção no município, motivada pela baixa cobertura do sistema
coleta de dados pesqueiros que não foi ampliada para outros locais de desembar-
ques existentes, limitando-se apenas a coletar informações dos desembarques na
CEAGESP. A partir de 1995, o Instituto de Pesca iniciou a ampliação do sistema de
coleta de dados pesqueiros no município, com o aumento do número de coletores
e a busca de novos pontos de desembarque. De 1995 a 1996, os pontos de desem-
barque cobertos foram: CEAGESP, três peixarias e duas indústrias, além do monito-
ramento de desembarques em um trapiche de uso comum. A partir de 1997, anual-
176 Mendonça, J. T. & Cordeiro, A. G.
... continuação
Iguape
A pesca do município é realizada através de 27 aparelhos ou métodos de
pesca diferentes, sendo as redes emalhe para peixes as mais utilizadas, seguidas
do corrico para manjuba (emalhe de deriva superfície) (Tabela 3). O número de
espécies desembarcadas ao longo dos anos foi de 99 espécies, distribuídas em 47
famílias. Entre os produtos desembarcados, observa-se que os teleósteos tiveram
amplo predomínio, sendo que, nos últimos anos, houve um pequeno aumento dos
crustáceos na composição, acarretado pelos desembarques de siri-azul (Callinectes
sapidus e C. danae) (Figura 8).
Estatística pesqueira do Litoral Sul de São Paulo - Metodologia e resultados 183
Tabela 3 - Aparelhos de pesca utilizados no município de Iguape para a pesca pro-
fissional.
Tipo Aparelho ou método Produto-alvo
Armadilha cerco fixo Peixes diversos
Armadilha covo lagostim Lagostim de Iguape
Armadilha covo peixe Peixes diversos
Armadilha covo pitu Pitu estuarino
Armadilha covo siri Siri azul
Armadilha peneira Pitu estuarino
Armadilha puçá Siri azul
Armadilha puçá majuba Manjuba do gênero Anchoviella
Armadilha redinha Caranguejo-uçá
Arrasto arrasto de praia Peixes diversos
Arrasto arrasto duplo pequeno Camarão-rosa, Camarão-legítimo, Peixes diversos
Arrasto arrasto simples pequeno Camarão-rosa, Camarão-legítimo, Peixes diversos
Arrasto gerival Camarão estuarino
Arrasto manjubeira Manjuba do gênero Anchoviella
Arrasto peneira Pitu estuarino
Arrasto picaré Peixes diversos
Emalhe corrico para manjuba Manjuba do gênero Anchoviella
Emalhe emalhe de deriva fundo Peixes diversos
Emalhe emalhe de fundo Peixes diversos
Emalhe emalhe de praia Peixes diversos
Emalhe emalhe de superfície Peixes diversos
Emalhe emalhe estaqueada Peixes diversos
Espinhel espinhel de fundo Peixes diversos
Linha linha de mão Peixes diversos
Manual extrativismo Moluscos, Caranguejo-uçá, Mossorongo
Tarrafa tarrafa Peixes diversos
Vara vara e isca-viva Peixes diversos
Ilha Comprida
O número de aparelhos ou métodos de pesca registrados no município foi de
17 unidades, sendo as redes de emalhe para peixes as mais utilizadas (Tabela 4). A
atividade desenvolve-se tanto na praia, com utilização de redes de emalhe e arrasto
de praia, como na área de estuário, com o uso de redes de emalhe, gerival e cerco-
-fixo. O número de espécies desembarcadas ao longo dos anos foi de 62 espécies,
distribuídas em 32 famílias. Similar ao município de Iguape, há um amplo predo-
mínio de teleósteos nos desembarques, havendo maiores volumes de crustáceos e
moluscos apenas na segunda metade da década de 2000 (Figura 11).
186 Mendonça, J. T. & Cordeiro, A. G.
Conclusões
Metodologia de coleta
As coletas dos dados pesqueiros ao longo dos anos tiveram profunda mo-
dificação no litoral sul, buscando sempre o aperfeiçoamento do monitoramento
pesqueiro, visto tratar-se de uma pesca, em sua maioria, artesanal, com grande
pulverização dos pontos de desembarque. Entre estas modificações, podem-se des-
tacar as seguintes características que ajudam na melhoria do monitoramento:
1. Coleta de dados através dos pontos de escoamento: facilita no registro das
informações, pois aglutina os desembarques dos pescadores artesanais.
2. Coleta de dados através de entrevistas com os pescadores nos desembar-
ques: similar ao que já se desenvolve em vários locais do País, mas apenas
é possível quando há concentração de desembarques, como é o caso da
pesca industrial em Cananeia.
3. Coleta de dados através de planilhas preenchidas pelos próprios pescado-
res: obtém melhores informações de esforço e produção, além de regis-
trar os desembarques de unidades produtivas que têm sua comercializa-
ção escoada para diversos pontos, como turistas, quiosques, restaurantes,
não havendo aglutinação em pontos tradicionais de comércio de pescado,
como peixarias e indústrias.
4. Equipe de agentes de coleta formada por pessoas nativas da região: pos-
suem o conhecimento local da atividade, refinando e ajustando melhor o
dado coletado.
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CAPÍTULO 10
SILÍCIO: UM ELEMENTO ÚTIL NA
BANANICULTURA
Leandro José Grava de Godoy1, Guilherme Felisberto2,
Rafhael Mendes Fehr2, Stéfano Gongora Goçalo2
Acúmulo de silício na bananeira e sua relação com outros nutrientes
nutrientes dos silicatos do solo por meio de dissolução mineral induzida pelas raízes
(acidificação das rizosfera), disponibilizando, deste modo, também o silício.
A cultura da banana é considerada acumuladora de Si contendo fitólitos de
opalina, principalmente nas células da bainha do feixe vascular das folhas e pseu-
docaule (Tomlinson, 1969; Prychid et al., 2004) (Figura 1). Por formar estes fi-
tólitos, que podem permanecer por milhares de anos no solo, a cultura da banana
tem sido estudada por arqueólogos, permitindo datar no exato local onde foram
encontrados (diferentemente do pólen, que pode ser carregado por aves e pelo
vento) e estabelecer ligações entre as populações da época. Lentfer e Green (2001)
evidenciaram o cultivo da bananeira entre 400 aC. a 650 dC. na ilha de Watom, no
leste de Papua Nova Guiné, África. Outros fitólitos foram encontrados em Cama-
rões, África, proporcionando evidências do cultivo da bananeira e o contato destas
populações com a Ásia, donde a bananeira é nativa (Mbida Mindzie et al., 2001).
Figura 1 - Imagem de células de Musa sp. (Musaceae), corpos silicosos com “dedos”
de sílica projetando-se da base para dentro de fendas da parede celular
(bar = 10 µm). Adaptado de Prychid et al. (2004).
Opfergelt et al. (2006b) observam teores de 0,4 a 21,0 g kg-1 Si nos tecidos
de mudas de bananeira cv. Grande Naine sendo maior nas folhas velhas seguidos
pelas folhas novas (limbo), nervura central, pseudocaule e raízes (Tabela 1), princi-
palmente nas plantas bem supridas com este elemento.
Henriet et al. (2006), em experimento sobre a distribuição e absorção de si-
lício em mudas de bananeira de três genótipos, sob condições controladas, con-
cluíram que a taxa de absorção e a concentração de Si nos tecidos aumentaram
expressivamente com a elevação da dose do suprimento de Si. Na dose mais alta
de Si (1,66 mM Si ou 46,5 mg L-1 Si), a absorção deste elemento foi comandada pelo
fluxo de massa da água (transporte passivo). Todavia, nas menores concentrações
de Si, a absorção total foi maior do que a por fluxo de massa e causou a redução
do teor de silício na solução nutritiva, sugerindo a existência de transporte ativo
194 Godoy, L. J. G. de et al.
Médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de
probabilidade.
Silício e o Mal-do-Panamá
Rodrigues (2007) verificou que mudas de bananeira supridas com silicato de
cálcio e magnésio, principalmente da cultivar Maçã, considerada altamente sus-
cetível ao mal-do-Panamá, apresentaram redução significativa na intensidade da
doença (Figura 5) e, em geral, plantas supridas com silicato de cálcio e magnésio e
inoculadas com Fusarium oxysporum f.sp. cubense apresentaram ganho em matéria
seca em relação às plantas crescidas na presença de calcário.
Figura 6 - Rizomas de bananeira tratada com 2.000 mg L-1 Si (a), 1.000 mg L-1 Si (b) e
não tratadas com silício (c) submetidas à estresse por frio a 4 oC, durante
oito dias, e inoculadas com Fusarium oxysporum f.sp. cubense. Adaptado
de Kidane e Laing (2008b). Foto: Gaspar Korndörfer.
Silício e a Sigatoka-Negra
Kablan et al. (2008) realizaram um estudo com mudas de bananeira da cul-
tivar Grande Naine, cultivadas em condições controladas (vasos de 2,5 L), supridas
com solução nutritiva contendo ou não 1,66 mM Si (46,5 mg L-1 Si). Após quatro
meses recebendo a solução, estas foram inoculadas com Mycosphaerella fijiensis
Morelet por meio de pulverização de conídios ou friccionando 0,3 mg de fragmen-
tos miceliais em áreas de 9 cm de diâmetro. O desenvolvimento dos sintomas da
Sigatoka-Negra foi avaliado por meio de notas de 0 a 5 e pela área afetada pela
doença, quantificada por meio de análise de imagem digital. Os sintomas da Siga-
toka-Negra progrediram mais rapidamente, a severidade da doença foi mais alta e a
área infectada foi maior nas plantas não tratadas com silício, sugerindo que o silício
reduz a suscetibilidade da plantas à Sigatoka-Negra (Figura 7).
Silício: um elemento útil na bananicultura 201
Figura 8 - Bananeira tratada com 1.000 mg L-1 Si (a) e não tratadas com silício (b)
submetidas à estresse por frio a 4 oC, durante oito dias, e inoculadas com
Fusarium oxysporum f.sp. cubense. Adaptado de Kidane e Laing (2009).
Foto: Gaspar Korndörfer.
Silício e nematoides
Segundo Pimenta et al. (2009b), as doses de silicato de Ca e Mg de 1,28 e 2,56
g kg-1 reduzem o número de ovos de M. javanica em raízes de bananeiras Prata-Anã
em relação à testemunha (calcário) (Tabela 4), mas não interferem no número de
galhas, massas de ovos e juvenis de segundo estádio.
CONCLUSÕES
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PARTE II
Introdução
1
Assistente Social e Mestranda do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP,
bolsista CNPq. Email: thynca@hotmail.com.
208 Cardoso, C. F.
4 A respeito do centro de origem e rotas de expansão dos Tupi, ver os artigos de Francisco Noelli, Edu-
ardo Viveiros de Castro e Greg Urban na Revista de Antropologia da USP, volume 39, n° 2, de 1996.
5 Efetuar o levantamento demográfico real nas aldeias Mbyá no Brasil exigiria uma pesquisa simul-
tânea em todas as aldeias/regiões, tendo em vista o fator migração/mobilidade inerente a essa
sociedade indígena.
6 Este GT foi instituído pela Câmara de Política Social em janeiro de 2004.
212 Cardoso, C. F.
da FUNAI, porém tanto o Estatuto quanto a FUNAI foram criados em uma época
na qual as ideias “evolucionistas” ainda permaneciam. O indígena era visto apenas
como um estágio da civilidade, e o ocidental, nos “moldes europeu”, era o mais alto
grau de civilização e humanidade, por isso a integração à sociedade nacional se fa-
zia necessária. Essa visão etnocêntrica, paternalista e integracionista do Estado não
é novidade, ao contrário, acompanha e sustenta todas as ações por parte do Estado
há séculos, desde o período de dominação portuguesa.
Por ser uma instituição e uma legislação criada em moldes positivistas e
com ideais evolucionistas, a população indígena é tratada tanto pelo órgão tutor,
representante do Estado, quanto pela legislação indigenista, como uma população
necessitada de um tutor, não para orientá-la e lutar juntamente com os povos para
o enfretamento da questão indígena, e sim para limitar sua capacidade civil e o
acesso aos seus direitos.
No Estatuto, a possibilidade de os índios integrarem o quadro de funcioná-
rios da FUNAI foi dada, supondo uma participação efetiva dos índios na Fundação;
um prazo para a demarcação das terras também foi definido para 5 anos, claramen-
te não cumprido na contemporaneidade.
A partir de 1993, ocorre a divisão de ações da FUNAI com a FNS - Fundação
Nacional de Saúde -, transferindo as responsabilidades da saúde para a FNS, e fi-
cando a FUNAI com a questão da terra e demais Políticas Públicas. Essas definições
foram destacadas no “I Fórum Nacional de Saúde Indígena”, organizado pelas pró-
prias fundações, no qual também foi proposta a ação conjunta das instituições.
Artigo 54: “Os índios têm direito aos meios de proteção à saúde facul-
tada à Comunhão Nacional” e “Na infância, na maternidade, na doen-
ça e na velhice deve ser assegurada ao silvícola especial assistência dos
poderes em estabelecimentos a este fim destinados”.
218 Cardoso, C. F.
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos pela ONU, promulgado no Brasil em
1992 pelo Decreto nº. 591. Em 1989, a OIT promove a Convenção 169 sobre Povos
Indígenas e Tribais em Países Independentes, mesmo ano em que as Nações Unidas
adota a Convenção sobre os Direitos das Crianças. Em 1992, é adotada a Convenção
da Diversidade Biológica, e em 2007 a ONU aprova a Declaração sobre os Direitos
dos Povos Indígenas.
Todos esses documentos “amparam” a cultura, a saúde, a educação, os cos-
tumes, a utilização das terras pelos povos indígenas brasileiros e ainda buscam a
promoção e a efetivação dos direitos humanos dos índios. Porém, como é sabido,
na prática, nem mesmo as disposições da Constituição Federal, pertinentes, são
minimamente cumpridas. As conquistas não puderam efetivar-se efetivamente,
considerando-se o funcionamento de um aparelho burocrático e profundamente
desinteressado em mudar a situação.
O Estatuto do Índio, à época de sua promulgação, é um avanço em termos
de legislação, porém, até os dias atuais regendo a legislação referencial aos povos
indígenas brasileiros, encontra-se desatualizado quanto às necessidades dos povos
indígenas, considerando os quarenta anos passados desde o aparecimento da pri-
meira legislação a seu favor.
Agradecimentos
idas a campo, e a André Luís Menato, pelas longas conversas a respeito da questão
indígena. A todos, muito obrigada.
Referências bibliográficas
Resumo: Assim como muitas populações rurais que habitam áreas de floresta em
todo o mundo, as comunidades quilombolas do Vale do Ribeira estão passando
por uma série de transformações nas últimas décadas, em intensidade nunca antes
observada. O objetivo do presente capítulo é refletir sobre as consequências de
tais mudanças nas diversas esferas de vida dos quilombos. Isto se dará através da
apresentação do histórico de ocupação e formação das comunidades, do cenário de
vida dos bairros no início do Século XX e das consequências destas transformações
em diversos aspectos relevantes de sua vida, como: a atividade agrícola e a subsis-
tência local, a paisagem florestal, a organização e a diversidade dos jandins-quintal,
os padrões de consumo alimentar, a alocação do tempo e o status nutricional das
populações humanas locais. Os resultados apresentam um cenário complexo e ain-
da em transformação, com indícios de um processo de urbanização por um lado,
e algumas forças que compelem esse processo em um sentido oposto, por outro.
Acreditamos que a preservação do ecossistema florestal e a saúde e permanência
destas populações em seu território só podem ser garantidas com a adoção de es-
tratégias que combinem as restrições ambientais à necessidade de participar do
mercado, além de obter novos tipos de organização do trabalho coletivo, contornar
o processo de transição nutricional e, além disso, assimilar a recente identidade
quilombola.
Introdução
1 CNPq, Diretório dos grupos de pesquisa do Brasil. O grupo é liderado pela Profa. Dra. Cristina Adams,
do Laboratório de Ecologia Humana, Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH USP); e pelo
Prof. Dr. Rui Sergio Sereni Murrieta, do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva, Instituto de
Biociências da USP. Também fazem parte do grupo pesquisadores do Instituto de Botânica (Secreta-
ria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo), da UFSCAR e da Universidade de Ohio (Columbus,
EUA).
Do escravo ao quilombola: a história e a transformação do modo de vida dos remanescentes... 227
Para tanto, devemos encontrar populações que ainda apresentam certo grau de
isolamento da sociedade capitalista mais abrangente, pouco industrializadas, que
manejam os recursos naturais constantemente e que habitam áreas em que o am-
biente se encontra em estado relativamente preservado. Nesse sentido, as comu-
nidades de remanescente de quilombo da região do Médio Ribeira (entre os muni-
cípios de Eldorado e Iporanga - SP) mostraram-se um campo de pesquisa bastante
apropriado2. Tais quilombos estão entre os principais responsáveis pelo manejo da
floresta local, em áreas inseridas em um dos poucos remanescentes ainda preser-
vados de Mata Atlântica, considerados dessa forma de altíssimo grau de relevância
para a conservação da biodiversidade (ANDRADE et al., 2000; ADAMS, 2000; METZ-
GER, 2009). Além disso, tais comunidades têm um histórico de ocupação deste ter-
ritório de cerca de 300 anos e ainda praticam o sistema agrícola de corte e queima,
também conhecido como coivara. Entretanto, assim como muitas populações ru-
rais que habitam áreas de floresta em todo o mundo, as comunidades quilombolas
do Vale do Ribeira estão passando por uma série de transformações nas últimas
décadas, em intensidade nunca antes observada (PEDROSO-JUNIOR et al., 2008b).
As mudanças são geradas pela combinação de diversos fatores, complexos e histó-
ricos, e estão apontando para um processo de erosão do sistema agrícola tradicio-
nal (PEDROSO-JUNIOR, 2008). Tal processo pode transformar diversos aspectos do
modo de vida destas populações, assim como a natureza de sua interação com os
remanescentes de Mata Atlântica.
Assim, neste capítulo, temos por objetivo refletir sobre como as mudanças
recentes nos padrões de subsistência locais estão transformando as diversas esfe-
ras envolvidas na vida dos bairros negros da região. Para tanto, serão divulgados os
resultados de diversos trabalhos de pós-graduação3 do grupo anteriormente citado,
cujas pesquisas na região do Médio Ribeira foram iniciadas no ano de 2003. Em
primeiro lugar, apresentaremos o histórico de ocupação e formação das comunida-
des quilombolas da região. Em seguida, reconstruiremos o cenário socioambiental
dos bairros negros no início do Século XX, levantaremos as transformações intensas
que os sistemas de manejo tradicionais estão ultrapassando nas últimas décadas
e finalmente apontaremos as consequências destas transformações na atividade
agrícola e subsistência local, na paisagem florestal, na organização e diversidade
dos jandins-quintal, nos padrões de consumo alimentar, na alocação do tempo e no
status nutricional das populações humanas locais.
Para as primeiras décadas do século XX, os relatos locais revelam uma dieta
complexa, com grande diversidade de itens cultivados: arroz, feijão, milho, mandio-
ca, além de legumes (cará, taioba, batata-doce, inhame, etc.), hortaliças, temperos
(cebolinha, alfavaca, alho, etc.) e frutíferas (goiaba, banana, jabuticaba, mexerica,
4 Causado por problemas ligados à construção do Valo Grande, à falta de mão de obra escrava e à
restrita aptidão agroecológica da região para o cultivo do café.
230 Munari, L. C. et al.
Transformações
Coivara hoje
Para a caracterização da situação atual da prática da coivara entre os qui-
lombolas, realizamos um censo socioeconômico e demográfico nas dez comunida-
des de remanescente de quilombo localizadas na região do Médio Ribeira, entre
os anos de 2003 e 2005 (Pedroso-Junior, 2008). Além disso, foi realizada coleta
de dados etnográficos em Pedro Cubas, Pedro Cubas de Cima, São Pedro e Sapatu.
Aplicamos entrevistas durante incursões guiadas às roças, com enfoque nos fatores
socioeconômicos, políticos e ambientais que têm influenciado o processo de toma-
da de decisão acerca das práticas agrícolas.
No geral, a coivara continua sendo o principal meio de subsistência para a
população local, já que é praticada em algum grau por 93% das famílias censeadas.
No entanto, o cenário atual mostra a erosão gradual do sistema de coivara prati-
cado no início do Século XX. Pudemos perceber, em campo, diversos indicadores e
consequências deste processo. Em primeiro lugar, a produção agrícola voltada ao
comércio tem aumentado, em detrimento do cultivo voltado para a subsistência.
Itens como o maracujá, a banana e o palmito-pupunha são cultivados em um pa-
drão mais intensivo e necessitam de um manejo sistemático para garantir a produ-
tividade. Estes são cultivados em áreas próximas das residências e no seu entorno,
os atuais jardins-quintal, descritos adiante.
Associada à produção de itens comerciais, a extração do palmito-jussara e a
evasão populacional que ocorreu na década de 1980 têm contribuído para a dimi-
nuição significativa da mão de obra disponível para as tarefas agrícolas. Ao mesmo
tempo, o investimento na educação dos filhos limitou a atuação das mulheres no
trabalho agrícola, e o maior contato com o mercado de trabalho também está con-
tribuindo para a diminuição do interesse dos jovens pela coivara. Os mutirões são
realizados raramente, apenas com os membros mais velhos e sem os bailes.
A soma destes processos resultou na diminuição das roças em tamanho e
número, e em sua aproximação às casas. Além disso, observamos a redução do
período destinado ao pousio e o aumento do tempo de uso de uma mesma área.
As roças que são abandonadas geralmente não ficam mais de seis anos em pousio,
para não deixar que as capoeiras ultrapassem a idade ou altura máxima permitida
pela legislação para a derrubada. Esses fatores podem comprometer a produtivida-
de de espécies cultivadas para a subsistência, exigindo um manejo mais intensivo
Do escravo ao quilombola: a história e a transformação do modo de vida dos remanescentes... 233
do solo nas áreas próximas das casas como forma de compensar a perda de fertili-
dade dos solos.
A erosão da agricultura de coivara em favor do cultivo voltado para o comércio
tem promovido uma redução das espécies e variedades locais, e sua substituição por
variedades mais produtivas. A redução da diversidade agrícola pode ser um dos pro-
cessos mais impactantes para os padrões de subsistência de populações rurais, pois
tem causado perturbações ambientais e erodido a diversidade genética de cultivares,
acarretando um impacto na produtividade e na sustentabilidade do sistema (Altieri
et al., 1987; Almeida; Uhl, 1995; Peroni; Hanazaki, 2002; Martins, 2005).
A renda familiar também tem aumentado pelo surgimento de créditos agrí-
colas e benefícios governamentais, como a aposentadoria rural e a bolsa-escola.
Assim, a necessidade de produção agrícola para a subsistência familiar tem diminu-
ído, e a necessidade de compra de alimentos tem aumentado. Ao mesmo tempo, o
contato com novos padrões de consumo tem alterado as preferências alimentares
locais.
Mesmo assim, ainda é possível notar algumas tentativas de articulação social
e política entre os agricultores na busca por estratégias alternativas de subsistência,
tanto coletivas como individuais. Estas podem ser o indício de uma rearticulação do
capital social associada ao melhoramento do acesso ao crédito agrícola, apesar da
diminuição de áreas férteis disponíveis. Dessa forma, a agricultura de coivara passa
a fazer parte de um sistema agrícola maior, que também engloba cultivos perenes
voltados ao mercado, associados a outras formas de uso do solo, e por isso pode
ser sustentável de duas formas: ser resiliente a distúrbios exógenos, e exibir uma
tendência em atingir uma produtividade agrícola mais estável (Cramb, 1993; Diaw,
1997; Byron; Arnolds, 1999; Berkes; Folke, 2000; Muller; Zeller, 2002).
2009).
A legislação ambiental mais recente (Decreto Federal 6.660/2008) per-
mite a abertura de roças de até dois hectares por família por ano, apenas em flo-
restas em estágio inicial de regeneração (até 10 anos, Art. 24), excluindo as beiras
de cursos d’água e topos de morro (Stucchi, 2000; Pedroso-Junior, 2008). Nos
locais mais distantes onde antigamente se plantava, hoje existem diversas unidades
de florestas de capoeira em regeneração, que não poderão mais ser derrubadas.
Dessa forma, a legislação ambiental também contribui para que o cultivo seja mais
intensivo (Munari, 2009).
Com a reconfiguração do uso do território por parte destas populações, acre-
ditamos que a paisagem está transformando-se em um composto de segmentos
com categorias de manejo fixas no tempo e no espaço, com a consequente dimi-
nuição de áreas nos estágios iniciais de sucessão florestal e o aumento de florestas
secundárias mais tardias. Tal segmentação pode significar, em termos ecológicos, a
perda da complexidade estrutural (diminuição da biodiversidade) e dinâmica (re-
dução da variedade de ambientes) da Floresta Atlântica local (Munari, 2009). Para
a percepção local, as transformações podem acarretar na perda do conhecimento
prático associado à atividade de coivara e alterar a natureza das interações entre as
populações quilombolas e os remanescentes de Mata Atlântica, transformando de
forma radical a dinâmica formativa da paisagem (Pedroso-Junior, 2008; Muna-
ri, 2009).
A extração do palmito-jussara ainda é uma das atividades de maior retorno
econômico na região, apesar das restrições legais (Romeiro et al., 1996). Origi-
nalmente dominante de sub-bosques de Mata Atlântica, encontra-se atualmente
ameaçado de extinção (Alves, 1994; Romeiro et al., 1996). A sua ausência em
grades áreas de floresta pode alterar padrões na comunidade vegetal e interferir na
ocorrência das populações animais (Pizo; Vieira 2004), gerando transformações
profundas na paisagem florestal local. Além disso, os informantes locais atribuíram
à abertura de pastagens como responsável pelo desmatamento que teve lugar em
seu território (Munari, 2009). De fato, os mapas produzidos pelos moradores dos
bairros negros recentemente mostram que, em algumas comunidades, a área de
pastagem é maior do que as áreas para o uso agrícola (ver Santos; Tatto, 2008).
8 Ver definição de “casa de vizinhança” e “paiol” (ou capuova) na página 5 (Munari, 2009)
236 Munari, L. C. et al.
9 Os resultados de dieta e alocação de tempo apresentados nesta seção são parte do projeto de
mestrado “Consumo alimentar, gasto de energia e antropometria de populações quilombolas do
Vale do Ribeira (São Paulo, Br)”, ainda em andamento.
10 Os dados de status nutricional apresentados tratam-se de parte dos trabalhos de Angeli (2008) e
Crevelaro (2010).
11 Para algumas informações sobre o padrão de dieta local mais “tradicional”, ver 1°parágrafo da p.5.
Do escravo ao quilombola: a história e a transformação do modo de vida dos remanescentes... 237
São Pedro. Mas vale dizer que lá, ela foi consumida principalmente de forma pro-
cessada (linguiça).
Alocação de tempo
De modo geral, nossos dados sugerem o predomínio de atividades mais
sedentárias, de baixo custo energético. Primeiro, uma proporção considerável do
tempo foi alocada em atividades de “socialização” (visitas e encontros com amigos
e familiares). Também observamos que os homens se dedicaram mais às atividades
diretamente ligadas ao sustento do que as mulheres, mais envolvidas nos cuidados
com a casa e com os filhos, o que nem sempre aconteceu.
Num passado recente, homens e mulheres dedicavam-se ao plantio, numa
jornada intensa que começava pela longa caminhada até a roça, sempre distan-
te das moradias. Com a construção de escolas rurais, mulheres e crianças tiveram
de permanecer por mais tempo no núcleo das comunidades, ocasionando a realo-
cação de atividades na unidade familiar. As mulheres ficaram responsáveis pelos
afazeres domésticos, cuidado parental, cultivo de jardins-quintais e pela pequena
criação. Aos homens, ficou reservado cultivar a terra e sustentar a família.
Assim, apesar da crescente tendência de proximidade entre roça e moradia
(Pedroso-Junior, 2008; Pedroso-Junior et al., 2008b; Munari, 2009), ainda
são os homens quem precisam caminhar para cumprir suas tarefas. O trabalho fe-
minino acaba por ocorrer circunscrito ao espaço doméstico.
Por fim, encontramos que o tempo dedicado pelos homens à agricultura foi,
em média, 11,5% do tempo total reportado por eles. Por outro lado, cerca de 9%
desse tempo foram alocados em atividades remuneradas. Estes dados sugerem que
a prática da agricultura (tanto comercial como a de subistência) não tem exercido
forte prevalência sobre outras formas de atividade produtiva, apesar da tradição
prioritariamente rural dessas comunidades.
Considerando os resultados de dieta e alocação de tempo obtidos, podemos
concluir neste pequeno incurso sobre aspectos corriqueiros da vida atual em São
Pedro e Sapatu, que inevitavelmente tangenciamos os impactos locais das mudan-
ças na economia política regional, ocorridas nos últimos 30 anos. Primeiro, vimos
seus desdobramentos para a dieta, mais calórica e com elevada presença de ele-
mentos industrializados e de origem comprada, em contraposição aos produzidos
localmente através da agricultura. Depois, para a demanda energética dos indiví-
duos, reduzida por conta da transformação de suas relações produtivas com o am-
biente, menos mediadas pela agricultura do que no passado (Pedroso-Junior,
2008; Spressola-Prado, 2010).
Dito de outro modo, os novos padrões de dieta e de uso do tempo confir-
mam a participação definitiva dessas pessoas em processos socioeconômicos mais
amplos por meio do trabalho assalariado, da venda de produtos locais, dos progra-
mas governamentais de transferência de renda e, por fim, por meio do consumo.
Indo para além das esferas socioeconômica e política, nossos resultados
apontam para os eixos centrais de um fenômeno reconhecidamente global, inti-
238 Munari, L. C. et al.
Status nutricional
Amostramos 465 indivíduos remanescentes de quilombos, com idade igual
ou superior a 17 anos, entre os anos de 2003 a 200613. Foram realizadas medidas de
massa corporal e de altura, que utilizamos para calcular o índice de massa corpórea
(IMC) 14. A partir dos valores obtidos, os indivíduos foram classificados nas seguintes
categorias, de acordo com a WHO (1998): <18,5 como subpeso, 18,6–24,9 como
eutrófico, 25,0-29,9 como sobrepeso e ≥30 como obeso (WHO, 1998).
A classificação dos indivíduos amostrados de acordo com os valores de IMC
demonstrou que as porcentagens de indivíduos com subpeso foram relativamente
pequenas (Tabela 2), menores inclusive do que a prevalência nacional (2,8% para
o sexo masculino e 5,2% para o feminino) (IBGE, 2004). Para o sexo masculino, po-
demos notar que a maioria dos indivíduos foi classificada como eutrófico (77,10%)
e 16,82% como sobrepeso. A prevalência de obesidade foi pequena dentre os ho-
mens (apenas 4,67%). Quando comparamos aos valores de sobrepeso e obesidade
da população nacional, obtivemos valores menores tanto para o sobrepeso (valor
nacional= 41,1%) quanto para a obesidade (valor nacional= 8,9%) (IBGE, 2004). Já
em relação aos indivíduos do sexo feminino, menos da metade foi classificada como
eutrófica (48,21%), e houve porcentagens relativamente elevadas de sobrepeso
(32,67%) e obesidade (15,14%) (tabela 2). Ressaltamos que estes valores foram pró-
ximos aos obtidos para o mesmo sexo da população nacional (sobrepeso=40,0% e
obesidade=13,1%).
12 A transição nutricional pode ser definida como uma rápida alteração na estrutura da dieta e nos
padrões de atividade física da população, relacionada a mudanças socioeconômicas e demográfi-
cas (Popkin, 2001).
13 As comunidades estudadas foram: André Lopes, Nhunguara, Galvão, Ivaporunduva, Pedro Cubas,
Pilões, Sapatu e São Pedro.
14 O IMC é calculado através da divisão do peso (em quilogramas) pela medida da estatura (em me-
tros) elevada ao quadrado (WHO, 1998).
Do escravo ao quilombola: a história e a transformação do modo de vida dos remanescentes... 239
sidade foi maior para o sexo feminino (47,81%) do que para o masculino (21,50%).
Essa taxa diferencial dentre os sexos, obtendo-se valores mais elevados para indi-
víduos do sexo feminino, trata-se de mais uma evidência de que estas populações
estão atravessando um processo de transição nutricional, fortalecendo a hipótese
levantada anteriormente a partir dos padrões de dieta e atividade física. Em socie-
dades tradicionais campesinas em transição, o primeiro segmento a ser atingido
pelo aumento das taxas de obesidade e doenças crônicas correlatas é o feminino.
Isso se deve ao fato de que, nestas populações, a principal atividade fora do am-
biente doméstico pela qual as mulheres são responsáveis, geralmente é a agricul-
tura, especialmente a de subsistência (Murrieta; WinklerPrins, 2003; Pipera-
ta, 2008). Além disso, como já foi visto nos estudos etnográficos e de alocação de
tempo apresentados anteriormente, na realocação das atividades entre os sexos a
partir do estabelecimento das escolas, as mulheres ficaram responsáveis por ativi-
dades de menor demanda energética quando comparadas às desempenhadas pe-
los homens.
Desta forma, nossos resultados sugerem que as alterações vivenciadas nas
atividades de subsistência e produtivas, na dieta, no padrão de atividade física, den-
tre outras já descritas ao longo deste capítulo, parecem estar influenciando negati-
vamente as prevalências de sobrepeso e obesidade, principalmente dentre os indi-
víduos do sexo feminino, reforçando as evidências de que as populações estudadas
atravessam um processo de transição nutricional.
Conclusões
Agradecimentos
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CAPÍTULO 13
NOS CAMINHOS DA ORALIDADE: RESGATE DAS
PRÁTICAS DE USO DE PLANTAS MEDICINAIS POR
COMUNIDADES TRADICIONAIS CAIÇARAS DE
CANANEIA, VALE DO RIBEIRA - SP
1. Cientista Social pela Universidade Estadual de Londrina – UEL/PR. Associação Rede Cananeia – Grupo
de Trabalho Mobilização de Recursos. Rua Antonio Colasso de Souza, 120, Bairro Carijó, Cananeia - SP,
CEP 11990-000 - lunabianka@yahoo.com.br; 2. Associação Rede Cananeia – Grupo de Trabalho Mobi-
lização de Recursos. Rua Antonio Colasso de Souza, 120, Bairro Carijó, Cananeia - SP, CEP 11990-000.
246 Magdalena, B. C. & Nascimento, J. S. do
Introdução
MATERIAL E MÉTODOS
Contudo, vale ressaltar que não era objetivo confirmar a eficácia de princí-
pios ativos das plantas usadas medicinalmente, muito embora muitas delas sejam
conhecidas da população brasileira e já foram testadas cientificamente, desta for-
ma, o enfoque dado é sobre o uso medicinal inserido num dado contexto sociocul-
tural, já que não tem nexo pensar num uso terapêutico dissociado das concepções
locais de saúde e doença, que nem sempre correspondem às nossas ideias cosmo-
politas e/ou acadêmicas.
250 Magdalena, B. C. & Nascimento, J. S. do
(...) é, porque quando eu peguei aqui em 82, nós não tinha transporte nenhum, o
transporte que tinha, esse barco da Dersa que era da Sorocabana, fazia uma via-
gem por semana, agora faz três né, é, agora com dez reais cê vai e volta e naquele
tempo era uma vez por semana e os quadros que a gente considerava grave, mais
emergencial, a gente catava o barco da comunidade que tava mais no jeito, aí
mandava né, e daí se virava pra pagá combustível, pagá essas coisas toda, porque
a prefeitura nunca contribuía com nada né, mas hoje não, hoje não tem esse pro-
blema né (...)
Ezequiel de Oliveira
“(...) sabia, agora já (...) mudou tudo, a gente já não, que nem se tava uma criança
com dor de barriga eu não vô catá nada que sabia fazê, já vai direto pro dotor, e já
não usa mais remédio assim porque não faz proveito, então a gente já vai perden-
do tudo na cabeça (risos).
(...) acho porque tem muita (...) muita sabedoria. De de (...) como eu quero falar
mesmo? Médico né. É, porque a gente fazia essas coisa e confiava naquilo que a
gente tava fazendo, se a mãe dizia: faça, eu fazia como que ela fez, agora a gente
já tem cisma que aquilo não faz proveito e a gente tem que corrê prum médico, aí
a gente vai lá (...) aí o dotor: que que se as sucedeu? Então foi isso que fez mar, in-
vés di fazer bem, faz mar, então a gente já tem cisma de fazê as coisa (...).
Andrelina Margarida Mandira Domingues
Resultados e Discussão
Conclusões
local enriquecem o acervo e o imaginário sobre sua própria cultura, outrora esque-
cida nas histórias e “causos” contados pelos moradores; dessa forma, a compilação
em um livro que reúna o herbolário sobre plantas medicinais, métodos e posologias
usados pelas comunidades em seus sítios memoráveis das épocas dos mutirões e
fandangos é mais uma contribuição para o resgate, manutenção, valorização e difu-
são da cultura caiçara.
Agradecimentos
Este trabalho não poderia ter sido realizado e concretizado sem o auxílio dos
moradores tradicionais caiçaras de Cananeia, que em encontros em seus sítios e
lares, rodas de conversas descontraídas e relatos narraram os saberes relacionados
aos usos das plantas medicinais, tradição essa perpetuada nos caminhos da oralida-
de, a esses protagonistas de nossas histórias nossos mais nobres agradecimentos.
Também saudamos a Secretaria de Estado da Cultura, do Governo do Estado de
São Paulo, que vem apoiando várias iniciativas no município, além da Cooperativa
Cultural Brasileira – CCB, Associação Rede Cananeia, Instituto de Pesquisas Cana-
neia – Ipec, e Instituto de Ensino, Pesquisa e Extensão em Agroecologia Laudenor
de Souza, pela parceria.
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256
CAPÍTULO 14
DIFUSÃO DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS
NA MATA ATLÂNTICA: ESTUDO DE CASO DO
VALE DO RIBEIRA
Diego Sotto Podadera1, Edgar Alves da Costa Júnior2,
Eliana Cardoso-Leite3, Fátima C. M. Piña-Rodrigues4
Introdução
1. Faculdade de Ciências Agronômicas/UNESP. Rua José Barbosa de Barros, 1780, 18610-307 Botuca-
tu-SP. diegopodadera@gmail.com; 2,3,4.- UFSCar- Sorocaba, Rod. João Leme dos Santos, Km 110
- SP-264, Sorocaba-SP -Brasil, CEP 18052-780. edgacj@yahoo.com.br.
258 Podadera, D. S. et al.
ritários em ações para conservação no mundo. Este bioma que recobria mais de
1.300.000 km², cerca de 15% de todo o território nacional, hoje se resume a menos
de 4% de sua área original de matas primitivas e outros 4% em floresta secundárias
(RBMA,2009).
Notavelmente, 20% de todos os remanescentes florestais encontram-se no
Vale do Rio Ribeira de Iguape (RBMA, 2009), que possui mais de 20 Unidades de
Conservação e é recoberta em mais da metade de seu território por vegetação nati-
va. Esta região, localizada entre os Estados de São Paulo e Paraná, ao mesmo tempo
que apresenta esta enorme riqueza ambiental, também detém os mais baixos índi-
ces socioeconômicos (IBGE, 2000) de industrialização e urbanização.
E é nesse cenário que se encontra um terço da agricultura familiar do Estado,
que acaba por se instalar em áreas de preservação, entorno de parques e áreas mais
afastadas, onde, muitas vezes, os solos são menos férteis, causando uma situação
de conflito entre produção agrícola e conservação ambiental (PIÑA-RODRIGUES;
CARDOSO-LEITE, 2008). Considerando-se todos estes agravantes da situação regio-
nal e enquadrando-os no panorama mundial de busca por alternativas sustentáveis
de produção foi que, por volta do ano de 1995, iniciaram-se as experiências com
sistemas agroflorestais (saf) no Vale do Ribeira.
Paraty - RJ
Paraty, localizado no litoral sul do Estado do Rio de Janeiro, é um lugar de
imensa beleza ambiental, onde vivem famílias que ainda praticam a pesca de sub-
sistência, cultivam suas roças de mandioca, fabricam a farinha e, com menor in-
tensidade, praticam a pequena caça, o que caracteriza o modo de vida tradicional
caiçara (DIEGUES; NOGARA, 1994 apud GARROTE, 2004).
No início da difusão dos sistemas agroflorestais na região de Paraty, o ob-
jetivo principal era a introdução do cultivo de açaí (Euterpe olerace) e pupunha
(Bactris gassipae), com a intenção de amenizar a pressão existente na exploração
ilegal do palmito-jussara (Euterpe edulis). Foi a partir do ano de 2000, por meio da
participação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em conjunto
com o Grupo de Agricultura Ecológica da UFRRJ e o conselho Municipal das Associa-
ções de Moradores do Município de Paraty, que as atividades de implantação dos
Sistemas Agroflorestais se iniciaram. A metodologia teve início com a instalação de
260 Podadera, D. S. et al.
Sul da Bahia/BA
De acordo com Cullen-JR. (2005), o sul da Bahia é uma região produtora de
cacau, e suas florestas em geral não foram (ainda) reduzidas aos remanescentes
isolados com bordas abruptas.
Um elemento favorável à difusão dos SAFs nesta região é que estes sistemas
já constituem uma prática desenvolvida por muitos agricultores familiares locais, que
realizam cultivos bastante diversificados nas mais variadas combinações e, em muitos
casos, estabelecendo conexões entre os remanescentes florestais (OLALDE, 2001).
Pequenos grupos ambientalistas, como Gambá, Jupará e Instituto de Estudos
Socioambientais do Sul da Bahia (IESB), têm apoiado e patrocinado programas de
treinamento para comunidades em assentamentos. Esses treinamentos envolvem
técnicas de cultivo em agroflorestas, viveiros de mudas, assuntos relacionados a
animais silvestres, recursos hídricos e planejamento do uso da terra (CULLEN-JR.,
2005).
Este trabalho tem por objetivo discutir os motivos que interferem na difusão
dos Sistemas Agroflorestais no bioma Mata Atlântica entre os pequenos agriculto-
res, utilizando o Vale do Ribeira como objeto de estudo.
MATERIAL E MÉTODOS
Individual / coletivamente?
Direto para o consumidor / atravessador?
Na propriedade / fora da propriedade ?
8 - Qual é o rendimento econômico mensal atualmente (R$/há)?
9 - Qual a mão de obra utilizada, para a manutenção de homem/há?
10 - Como é a assistência técnica? Qualitativamente (excelente, boa ou ruim) e
quantitativamente (ausente, esporádica ou frequente).
11 - Qual a principal dificuldade hoje?
12 - Conselhos/ lições aprendidas...
Para os demais (Associação Rede Cananeia, ITESP, ISA e Cativar), foi encami-
nhado via e-mail o questionário abaixo (Questionário 3).
1 - Qual a sua identidade com o tema “Sistemas Agroflorestais”? Quando foi o seu
Difusão dos sistemas agroflorestais na Mata Atlântica: estudo de caso do Vale do Ribeira 263
primeiro contato? Em que contexto você se encontrava?
2 - Quais as principais dificuldades na atuação como extensionista dentro deste
modelo de agricultura? Principalmente em relação ao seu preparo (formação) e
disponibilidade de materiais de apoio.
3 - Que tipo de comparação é possível ser feita sobre a atuação do técnico em siste-
mas convencionais e modelos sustentáveis de agricultura (com ênfase em sistemas
agroflorestais)?
4 - O que pode ser dito em relação ao retorno econômico dos sistemas agroflores-
tais?
5 - Em relação à organização dos produtores, tanto para a produção de seus sis-
temas, quanto para comercialização de seus produtos. O que pode ser apontado
como de grande importância? Qual é a situação atual das experiências no Vale?
Quais são as deficiências? Quais são os pontos positivos?
6 - É evidente a dificuldade no momento de transição entre os modelos de agricul-
tura. Que tipo de consideração é possível ser feita a respeito da persistência dos
agricultores neste momento?
7 - Qual conselho o senhor daria para um agricultor que pretendesse iniciar esta
transição?
8 - Analisando o contexto da agricultura familiar no Vale e considerando os sistemas
agroflorestais como boa alternativa de produção, tendo em vista experiências tão
consolidadas na região, como as de Sete Barras, Cananeia, Barra do Turvo e Cajati
(mas ainda bem pontuais). Qual seria o motivo para não ocorrer difusão do sistema
para novos agricultores?
Os extensionistas, daqui por diante, serão denominados por E1, E2, E3, E4,
E5, E6, E7, E8, E9 e E10.
Resultados E DISCUSSÃO
a) Levantamento bibliográfico
Foram encontrados 105 resultados para as buscas na Internet, distribuídos
da seguinte forma: 84 trabalhos no grupo (a) 1 - Trabalhos que tratam de questões
técnicas vinculadas a este tipo de sistema (solos, nutrientes, serrapilheira, econo-
micidade...) e 21 trabalhos no grupo (a) 2 - Trabalhos que tratam de assuntos refe-
rentes à gestão (assistência técnica), conforme gráfico a seguir (Figura 1):
264 Podadera, D. S. et al.
Figura 1 - Divisão dos trabalhos encontrados que tratam do tema “Sistemas agroflo-
restais” e foram desenvolvidos no bioma mata.
b) Agricultores
A partir das questões 1;2;3;8 e 9 do Questionário 1, tem-se abaixo a Quadro
1, que apresenta uma breve caracterização dos agricultores entrevistados:
Mão de obra 0,17 homem/ha. 0,2 homem/ha. 0,14 homem/ha. 0,33 homem/ha.
Difusão dos sistemas agroflorestais na Mata Atlântica: estudo de caso do Vale do Ribeira 265
Sobre a expansão (questões 4 e 5) dos sistemas, pode-se dizer que 100% dos
entrevistados expandiram suas áreas manejadas com sistemas agroflorestais em
relação à área inicialmente implantada e 50% continuam ampliando suas áreas com
este sistema de cultivo.
Sobre a expansão do sistema entre novos agricultores (questão 5 do Questio-
nário 1), 75% acreditam que é um processo que está acontecendo e vem agregando
novos produtores.
Em relação à assistência técnica (questão 10 do Questionário 1), 75% a classi-
ficam como boa em qualidade e com frequência esporádica, e 25% como excelente
em qualidade e de acompanhamento frequente.
A respeito das dificuldades (questão 11 do Questionário 1) em ser um agri-
cultor agroflorestal, os dois pontos mais apontados pelos agricultores foram o mo-
mento da transição e questões legais relacionadas ao corte de espécies nativas
(apontados por 50% dos entrevistados), seguido da falta de políticas públicas de
incentivo (apontado por 25%).
Sobre a questão 12 do Questionário 1, que trata dos conselhos, 50% aponta-
ram a importância do contato com outros agricultores, a necessidade de um bom
planejamento e a quebra de paradigma. Observação e persistência também foram
mencionadas (por 25%), conforme gráfico a seguir (Figura 4).
Figura 4 - Conselho dos Produtores para aqueles que procuram fazer uma transição
para um modelo sustentável de agricultura.
c) Extensionistas
Difusão dos sistemas agroflorestais na Mata Atlântica: estudo de caso do Vale do Ribeira 269
Em relação à organização (Questão 5 dos Questionários 2 e 3) para comercia-
lização, 60% dos extensionistas afirmam que o associativismo é muito importante.
Os extensionistas entrevistados levantaram 13 pontos de importância para
aqueles que pretendem fazer uma transição agroecológica. Uma espécie de conse-
lho. Dentre todos os pontos levantados, o contato com outros agricultores, antes
de começar, foi apontado por 70% dos entrevistados, 60% citaram o planejamento
(adequação da escala de produção ao mercado, adequada escolha das espécies e
prévia identificação do nicho de mercado) como fator importante, 30% à necessi-
dade de implantação de áreas demonstrativas antes de grandes áreas e 20% se re-
feriram à organização entre produtores (associativismo) e questões relacionadas à
comercialização, necessidade de comprometimento por parte dos agricultores, que
os modelos devem ser diversificados e que os agricultores devem buscar conheci-
mento sobre o assunto, conforme gráfico que se segue (Figura 8).
Figura 8 - Conselhos dos extensionistas para aqueles que pretendem fazer uma
transição para modelos sustentáveis de agricultura. (a) análise de condi-
ções ambientais; (b) compromisso; (c) contato com outros agricultores;
(d) diversificação; (e) ler material sobre assunto; (f) nada deve ser im-
posto; (g) novo entendimento da agricultura; (h) organização; (i) planeja-
mento; (j) reflexão sobre a qualidade de vida; (k) ser experimentador; (l)
ser observador, (m) unidade demonstrativa.
Com este trabalho, pode-se concluir que a organização coletiva para produ-
zir, por exemplo, a formação de mutirões, não é fator preponderante para obter-se
o sucesso em modelos agroecológicos de produção.
O contato com outros agricultores antes da transição, a organização dos pro-
dutores no momento da comercialização, a instalação de unidades demonstrativas,
o planejamento e a mudança no modo de pensar são fatores de grande importância
para se obter sucesso na transição para um modelo agroecológico.
A renda obtida com sistemas agroflorestais é compatível com a renda de ou-
tros modelos agrícolas de agricultores familiares, além de agregar segurança ali-
mentar e bem-estar no exercício da mão de obra.
Há relação direta entre a renda alcançada e a mão de obra desprendida.
A formação técnica dos extensionistas é boa, porém de acesso muito restrito, o que
acaba por limitar os profissionais capacitados para atuar na área.
É preciso maior apropriação e valoração do tema, agricultura sustentável,
pelas entidades que prestam Assistência Técnica e Extensão Rural.
Ainda não é facilmente disponível material de apoio em linguagem acessível
para esta transição, tanto para os extensionistas, quanto para os agricultores.
Agradecimentos
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2006, p. 65.
CAPÍTULO 15
LEVANTAMENTO ETNOBOTÂNICO DAS PLANTAS
MEDICINAIS NA COMUNIDADE REMANESCENTE
DE QUILOMBOS PEDRO CUBAS, ELDORADO-SP.
2. Instituto de Botânica, Av. Miguel Stefano, 3687, 04301-902, São Paulo-SP. dsrodrigues@ibot.sp.gov.
br.; 2. 2UNESP, Câmpus Experimental de Registro, Rua Nelson Brihi Badur, 430 - Vila Tupy, 11900-000,
Registro-SP. afranio@unesp.registro.br.
276 Rodrigues, D. S. et al.
Introdução
Material e métodos
Resultados e discussão
de) e o número de plantas aventadas. Das três pessoas entrevistadas (do sexo femi-
nino e ficavam em casa cuidando dos afazeres dométicos) com menos de 30 anos,
constatou-se que não conheciam plantas medicinais. De acordo com Hanazaki et al.
(2006), que também verificou esta relação, constatou-se que este tipo de entrevis-
tado possui mais conhecimento em plantas herbáceas locais, enquanto os homens
têm mais conhecimento de árvores, pois esses vão mais à mata. Porém, resulta-
dos diferentes foram encontrados por Borba e Macedo (2006), que observaram em
seus trabalhos com plantas medicinais que as mulheres têm maior conhecimento.
A atividade principal dos entrevistados é a agricultura; quanto à escolari-
dade, 50% dos entrevistados não estudaram, uma pessoa tinha segundo grau com-
pleto e a outra parte apenas o primeiro grau incompleto. Essa escolaridade baixa é
uma realidade que está mudando na comunidade, pois a maioria das crianças está
matriculada e frequentando a escola.
Os entrevistados que mais citaram conhecer plantas medicinais são da faixa
etária dos 30-39 anos, e foram duas pessoas, uma do sexo masculino e outra do fe-
minino, talvez pelo fato de, nessa faixa etária, a memória está em “boas condições”
e estarem em plena atividade agrícola, diferindo dos entrevistados com mais idade,
pois alguns já não vão mais aos “sertões” ou roças, como se chama na comunidade. A
falta de memória também já não ajuda mais a lembrar de todas as plantas utilizadas.
Pelo fato de as pessoas mais idosas serem os maiores detentores do co-
nhecimento tradicional, busca-se desta maneira resgatar o conhecimento por meio
destas entrevistas, o qual, provavelmente, poderá ser perdido ao longo de gera-
ções.
Todos os entrevistados responderam que não compram plantas medicinais
e obtiveram ensinamento com pessoas mais velhas da família, como, por exemplo,
avós, pais, tios e sogra, e todos acreditam que as plantas medicinais podem ser uti-
lizadas com sucesso nos postos de saúde da rede pública.
Na comunidade, existe um posto de saúde, há o Programa de Saúde da Fa-
mília, e a equipe médica vai uma vez por semana na comunidade. A equipe médica
entrevistada relatou que a maioria das queixas de saúde dos adultos é pressão alta
e diabetes.
Foram elencadas 37 famílias de plantas, sendo as mais citadas as famílias
Asteraceae e Lamiaceae (Tabelas 1). Esses dados estão de acordo com resultados
obtidos por vários autores em diferentes regiões do País: Costa (2002) no Vale do
Ribeira em SP; Jacoby et al. (2002) no Rio Grande do Sul; Santos et al. (2008) em
Rondônia; Pinto et al. (2006) na Bahia; Damasceno e Barbosa (2008) em Minas Ge-
rais; Ming e Amaral, (1995) no Acre, que identificaram essas duas famílias botânicas
como as mais citadas. Fora do país, na Espanha Gonzáles-HERNÁDEZ (2004) e RAJA
et al. (1997) também observaram essas famílias como as mais citadas.
Segundo Ming e Amaral (1995), tais estudos vêm comprovando atividades
farmacológicas de diversas espécies destas famílias. Trata-se, pois, da confirmação
da validade da indicação popular, quando é visto que as plantas mais usadas popu-
larmente têm apresentado efeitos farmacológicos promissores.
279
Tabela 1 - Plantas medicinais utilizadas pela comunidade remanescente de
Quilombos Pedro Cubas II, Eldorado-SP, 2007.
Parte da
Família/nome científico- Nome popular Como usa Para que
planta
Acanthaceae – Justicia pectoralis anador/chambá Folhas Chá Dor de cabeça, gripes,
Jacq. dor de dente e vermes
Alismataceae Pedaços da
planta
Echinodorus grandiflorus (Cham. Chapéu de couro carqueja + Anemia e diabetes
& Schltdl.) Micheli picão
Aristolochiaceae –
Aristolochia triangularis Cham. milhomem Folhas Cozinha Dor de estomago
Amaranthaceae
Gomphrena globosa L. Perpétua/ Folhas ferver Antibiótico, para lavar
penicilina local da ferida.
Alternanthera brasiliana (L.)
Kuntze -
Asteraceae –
Achyrocline satureoides (Lam) DC. macela folhas chá - má digestão
Artemísia absinthium L. losna, folhas Ferve folhas - intestino e vermes
Ageratum conyzoides L. Erva de são João/ folhas chá hemorragia; cólica,
mentrasto pré-parto.
Baccharis genistelloides Person. folhas xarope
carqueja, - emagrecer e outros
folhas chá usos.
picão
Bidens pilosa L. folhas -Anemia, icterícicia
camomila infecçaõ interna.
Matricaria chamomilla L. folhas chá
folhas gripe.
Campanulaceae -
Lobelia inflata L. Taiuá/taiujá Folhas pó das folhas Bom para tudo.
Caprifoliaceae –
Sambucus nigra L sabugueiro Flores chá febre
Continua....
280
... continuação
Caricaceae –
Carica papaya L.
mamão Flor xarope
Cecropiaceae –
Cecropia peltata L. - embauba Folhas chá Pressão alta, diabete e
reumatismo.
Celastraceae –
Maytenus ilicifolia Mart. ex Reiss. espinheira santa Folhas chá gastrite
Chenopodiaceae –
Chenopodium ambrosioides L. erva de santa Folhas Folhas cruas Vermes, colocar no
Maria/mastruz no leite machucado.
Convolvulaceae -
Ipomea batatas L.
Continua....
281
... continuação
Liliaceae –
Smilax sp Salsa parrilha Folhas Mistura com câncer
álcool
Leguminosae –
Cassia angustifolia Vahl; Fedegoso/sene folhas Cozinha Desinteria, vermes
Senna occidentalis L.
Lythraceae
Cuphea balsamona Cham.& Sete sangrias folhas chá Febre, pressão alta.
Schlecht.
Malvaceae –
Malvaceae Juss. malva folhas bochecho Dor de dente
Menispermermaceae
Abuta Barrére ex. Aubl. boto caule Pós parto
Myrtaceae –
Eugenia uniflora Berg . pitanga Folhas chá Dor de cabeça, gripe e
febre.
Psidium guajava L. Goiaba,
Musaceae –
Musa spp. banana “umbigo” Com água Dor de barriga
líquido do
cacho
Polygonaceae
Polygonum acre HBK. Erva de bicho Folhas chá Feridas, piolho
Poaceae
Cymbopogon citratus DC. Stapf Capim cidreira Folhas chá Calmante e gripes
Rosaceae-
Rosa alba L. rosa branca Folhas chá Dor de cabeça, gripe e
febre.
Rubiaceae –
Cinchona sp; Quina Casca chá Dor de barriga, infecção
raspada no intestino, vermes,
Cephaelis ipecacuanha (Brot.) Iapecanga, chá hemorragias.
A. Rich. raiz
-Muitas doenças;
Uncaria tormentosa (Willd.)
Unha de gato chá -dor de cabeça
Coffea arabica L. cipó
Café na testa
folhas
Rutaceae –
Ruta graveolens L. Arruda Folhas Chá Para vermes
Citrus x limonun (L.) Osbeck Limão Frutos Chá com Gripes
açúcar
Citrus L. laranja Casca queimado e gripes
alho.
chá
Solanaceae -
Solanum cernuum Vell. panacéia Inflamações internas,
útero.
Continua....
282
... continuação
Apiaceae –
Coriandrum sativu L Coentro Folhas e Xarope Gripe
sementes
Foeniculumvulgare Mill. Erva doce/anis chá vermes
Folhas
Verbenaceae - -Machucado e
cicatrização.
Verbena officinalis L Gerbão/gervão folhas chá
-Prisão de ventre,
Lippa alba (Mill.) N.E.Br. erva cidreira folhas chá calmante.
Zingiberaceae – Caules em Cozinha com Bronquite asmática
pedacinhos água + mel
Costus spiralis Rosc. Cana do brejo
Conclusões
Agradecimentos
Referências bibliográficas
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erties. J. Ethnopharmacol., 1998. 62, p.173-182.
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CAPÍTULO 16
CAMPANHA CÍLIOS DO RIBEIRA: UMA INICIATIVA
PELA RECUPERAÇÃO DAS MATAS CILIARES
DA BACIA HIDROGRÁFICA RIBEIRA DE
IGUAPE/LITORAL SUL
Ivy Wiens1, Clodoaldo Armando Gazzetta2, Nilto Tatto3,
Raquel Pasinato4, Vinícius de Araújo Klier5
1. Relações Públicas, Instituto Ambiental Vidágua – Av Cruzeiro do Sul, 26-40, Jd Carolina, Bauru-SP-
ivy@vidagua.org.br; 2. Biólogo, Instituto Ambiental Vidágua – Av Cruzeiro do Sul, 26-40, Jd Carolina,
Bauru-SP -cgazzetta@terra.com.br; 3. Cientista Social Sociais, Instituto Socioambiental – ISA – Av
Higienópolis, 901, São Paulo-SP-ntatto@socioambiental.org; 4. Bióloga, Instituto Socioambiental – ISA
– Av Higienópolis, 901, São Paulo-SP-, raquel@socioambiental.org; 5. Bbiólogo (Caaetê Florestal –
Estrada do Capinzal , km 12,5, Registro-SP)- viniciusklier@gmail.com.
286 Wiens, I. et al.
Introdução
MATERIAL E MÉTODOS
Para a realização do diagnóstico, foi feita divisão das classes de uso do solo e
cobertura vegetal da Bacia. Para os remanescentes, foram considerados: mata, mata
secundária em estágio médio ou avançado de regeneração, restinga, área alagada/
várzea e mangue. As áreas alteradas foram subdivididas em áreas recuperáveis e
alteradas consolidadas. As recuperáveis dividem-se em: área antropizada menos
densa, loteamento não consolidado, solo exposto, campo/pastagem, agricultura,
reflorestamento, campo sujo, mineração, carcinocultura e assoreamento. As
alteradas consolidadas dividem-se em: área urbanizada, área de expansão urbana,
área antropizada mais densa, loteamento em construção, estradas, linha de alta
tensão e indústria.
Para o diagnóstico, foram considerados como área de preservação
permanente os cem metros de cada lado do Rio Ribeira e dos afluentes. Foi feito
levantamento, em escala 1:50.000, com a utilização de imagens LANDSAT, visando a
obter uma visão geral de toda a Bacia do Rio Ribeira. Para maior detalhamento do
uso e ocupação foram utilizadas fotografias aéreas, disponibilizadas pelo Instituto
Florestal, no caso da porção paulista, e pelo Instituto Ambiental do Paraná, na
porção paranaense, em escala 1:15.000. As bases de uso do solo consideraram três
períodos: os anos de 1985, 1990 e 1999.
O material foi apresentado em seminários regionais para que os atores locais
validassem as informações e traçassem dificuldades e oportunidades de restauração
de cada microbacia. Estas informações foram organizadas em um documento
intitulado “Atlas Regional Consolidado do Uso do Solo na Bacia Hidrográfica do Rio
Ribeira de Iguape – 2008”, produzido pela Campanha Cílios do Ribeira.
-Ações educativas
Segundo a Política Nacional de Educação Ambiental, Lei Federal 9.795/1999,
em seu artigo 1º, “entendem-se por educação ambiental os processos por meio
dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltados para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade”.
Partindo desta definição, a Campanha Cílios do Ribeira desenvolve ações
constantes, desde 2007, para a sensibilização dos diversos atores da Bacia
Hidrográfica a respeito das matas ciliares. Abaixo descrevemos as atividades
desenvolvidas.
a) Expedição ecológica
Com o objetivo de captar imagens da situação do uso e ocupação do solo,
divulgar a Campanha Cílios do Ribeira e sensibilizar a população ribeirinha para a
importância das matas ciliares, foi realizada, em 2007, expedição ecológica pelo Rio
Ribeira, percorrendo os municípios de Cerro Azul (PR), Ribeira, Itaoca e Iporanga. No
período noturno, foram exibidos vídeos da Campanha e outros títulos como: Cafundó,
O profeta das Águas, Crianças Invisíveis e Somos Todos Sacys. A população participou
efetivamente, especialmente porque a atividade levou até a esses municípios a
oportunidade de acesso a vídeos, em sessões pensadas no formato de cinema.
b) Plantios demonstrativos
Buscando a sensibilização e o envolvimento das escolas do Vale do Ribeira, a
Campanha promove, desde 2008, plantios demonstrativos com caráter educativo.
As áreas são escolhidas em reunião prévia com os parceiros locais e, dependendo
do interesse dos proprietários, pode ter uma ação efetiva de recuperação após a
atividade.
Antes dos plantios, é realizada atividade junto ao grupo de estudantes
escolhido, para explicação sobre as matas ciliares e sua recuperação. Como apoio,
já foram utilizadas apresentações de vídeo, capacitação para monitoria dos grupos
e apresentação do espetáculo teatral “O segredo do rio”, da Companhia Ópera
290 Wiens, I. et al.
e) Oficinas de planejamento
Foram realizadas duas oficinas no primeiro semestre de 2010. O objetivo foi
o monitoramento e a execução das demandas apresentadas após o lançamento da
Campanha, com dados atualizados sobre a situação das matas ciliares do Rio Ribeira
de Iguape e as áreas a serem reflorestadas, através de informações produzidas e
sistematizadas pelo ISA e Vidágua.
A escolha dos locais deu-se pela divisão da Bacia em sub-regiões, critério
adotado pela Campanha desde o início de suas atividades, em 2006. Outro aspecto
considerado para a escolha foi o envolvimento e o interesse em processos de
restauração, afinal as oficinas deveriam acompanhar também atividades de campo.
Desta forma, foram escolhidas pela coordenação da Campanha duas
comunidades para a realização desta atividade: o distrito de Barra do Braço, em
Eldorado (Médio Vale) e o Quilombo do Bairro Porto Velho, em Iporanga (Alto Vale).
Nos dois locais, a comunidade manifestou-se previamente, demonstrando interesse
em participar das ações dos Cílios do Ribeira.
A dinâmica utilizada nesses dois casos previa quatro etapas, estabelecidas
pela coordenação do projeto:
3 – Atividade em grupo:
Buscando envolver as comunidades no processo de recuperação de
áreas, foram organizadas atividades envolvendo crianças e adultos, focadas na
recuperação das matas ciliares. As atividades tiveram caráter colaborativo e tiveram
como objetivo a integração entre técnicos e comunidade.
4 – Encaminhamentos/desdobramentos:
Após a execução de todo o processo, com diagnóstico, acordos entre os
parceiros, atividade em grupo e mobilização dos atores locais, foi realizado encontro
para encaminhamentos. O objetivo era provocar a participação de proprietários
de áreas degradadas nestas localidades para sua recuperação. Neste contexto,
os participantes das etapas anteriores tornaram-se multiplicadores do processo,
colaborando com as explicações sobre a importância das matas ciliares e o apoio
técnico oferecido pela Campanha Cílios do Ribeira.
A avaliação da estratégia adotada é positiva, pois em ambos os casos foram
desencadeados processos efetivos de plantios visando à recuperação das matas
ciliares, além de formar multiplicadores para tratar o assunto, dentro das próprias
comunidades envolvidas.
Resultados e Discussão
Peruíbe e todos os rios que formam este sistema, Rio Caratuva, Rio Pampulha, Rio
Socavão, Ribeirão Grande, Rio Ribeira, Rio Turvo, Rio Itapirapuã, Rio Açungui, Rio Betara,
Rio do Cerne, Rio Corriola, Rio Santana, Rio da Piedade, Ribeirão Pulador, Rio do Rocha,
Rio São Sebastião, Rio Putuna, Rio Uberaba, Rio Pardo, Rio Capivari, Rio Serra Negra e
Rio Tagacaba.
CLASSE ÁREA HA %
Área urbanizada 265,01 0,54%
Área de expansão urbana 188,19 0,39%
Área antropizada mais densa 989,50 2,03%
Área antropizada menos densa 1.584,99 3,26%
Loteamento consolidado 78,70 0,16%
Loteamento não consolidado 70,24 0,14%
Solo exposto 522,40 1,07%
Campo/pastagem 9.114,69 18,74%
Agricultura 1.328,39 2,73%
Banana 2.249,46 4,62%
Reflorestamento 4.164,63 8,56%
Mata 12.153,08 24,98%
Mata sec. médio avançado 7.766,45 15,97%
Restinga 3.870,93 7,96%
Areia 413,03 0,85%
Nuvem 37,79 0,08%
Sombra 24,48 0,05%
Área alagada/várzea 742,59 1,53%
Estrada 662,12 1,36%
Linha de alta tensão 15,99 0,03%
Piscicultura 2,00 0,00%
Barragem 0,24 0,00%
Campo sujo 2.353,72 4,84%
Mineração 43,16 0,09%
TOTAIS % TOTAL
48.641,78 100,00%
Fonte: Atlas (2009)
A pastagem foi a atividade econômica que mais expandiu suas fronteiras
sobre as áreas de preservação permanente da porção paulista da Bacia, ampliando
sua área de 1.079 hectares em 1985, para mais de 5.000 hectares em 2008, o que
corresponde a um aumento de mais 375% no período.
Campanha Cílios do Ribeira: uma iniciativa pela recuperação das Matas Ciliares da Bacia... 295
A banana também é destacada neste estudo e representa hoje a segunda
maior pressão econômica sobre as APPs paulistas, ocupando 20,76% destas áreas
de proteção, o que representa mais de 2.249 hectares. O trecho do Rio Ribeira, entre
as cidades de Eldorado e Jacupiranga, foi o que mais perdeu floresta nas últimas
décadas para a cultura da banana, foram: 1.067,74 hectares até 2008, sendo que
o município de Jacupiranga é o que mais possui bananal sobre as áreas destinadas
à mata ciliar (560,63 hectares). Outro importante resultado foi diagnosticar em
quais áreas da Bacia ainda é possível encontrar mata ciliar preservada e que possa
servir de banco de sementes para adequar os projetos de reflorestamento com as
especificidades da região. Os municípios de Eldorado, em São Paulo, com 462,28
hectares, e Adrianópolis, no Paraná, com 1.581,69 hectares, são os que detêm os
maiores remanescentes deste ecossistema em bom estado de conservação.
Na porção paranaense da Bacia, a cultura de reflorestamento com pínus é a
atividade econômica que mais ocupou as APPs. Ao todo, foram 277% de aumento
nos últimos 20 anos, passando de 1.081,63, em 1985, para mais de 4.000 hectares,
em 2008. É na porção paranaense também que encontramos o maior percentual de
mata ciliar conservada: são 16.377,15 hectares, perfazendo um total de 33,67% do
uso total à Bacia, enquanto a porção paulista possui apenas 8.155,90 hectares, ou
seja, apenas 49,80% do total paranaense.
A partir dos dados levantados, é possível estabelecer uma classificação inicial
sobre a área ser passível de restauração ou não. As áreas alteradas já consolidadas
não apresentam viabilidade para restauração, da forma como vêm sendo ocupadas.
No entanto, existem áreas alteradas recuperáveis, ou seja, que podem ter seu uso
atual modificado para fins da implantação da mata ciliar.
Conforme o Quadro 2, a região possui um déficit total de mata ciliar da
ordem de 24.046,46 hectares, sendo que destes 1.212,26 hectares são ocupações
já consolidadas, com cidades, estradas e áreas antropizadas mais densas. Para
atingir este problema, a proposta da Campanha prevê a recuperação das matas
ciliares por meio de um plano estratégico, avaliando metodologias adequadas à
realidade regional, atualizando diagnósticos, prospectando oportunidades nos
processos de restauração, trocando experiências com outros atores que atuam
na área e disponibilizando as informações levantadas, integrando-as com bases
oficiais. No segundo semestre de 2010, a Campanha dará início ao Plano Diretor
para a recuperação das matas ciliares do Rio Ribeira, projeto apoiado pelo Comitê
de Bacias e que, além de atualizar as bases existentes sobre uso e ocupação do solo
da porção paulista da Bacia, irá traçar estratégia para sua recuperação, testando
diferentes metodologias em trechos escolhidos pelos atores locais.
296 Wiens, I. et al.
Conclusões
Agradecimentos
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implantação de Sistemas Agroflorestais.
CAPÍTULO 17
RESTAURAÇÃO PARTICIPATIVA EM ÁREAS
PROTEGIDAS: UMA EXPERIÊNCIA NO MOSAICO
DO JACUPIRANGA, SÃO PAULO, BRASIL
Roberto U. Resende1, Ocimar Jose B. Bim2, João M. Neto3
Introdução
Restauração
Este projeto foi desenvolvido em áreas próximas ao Centro de Visitantes
do Parque Estadual do Rio Turvo, junto ao Rio Capelinha (Bairro Capelinha). Estas
compuseram diferentes talhões, escolhidos em função dos seguintes fatores:
Diferentes condições em relação ao potencial de regeneração, permitindo
contemplar diversas situações e técnicas nas atividades de treinamento e como
unidade demonstrativa;
Interligação de fragmentos existentes e proteção das áreas ciliares dos
cursos d’água;
Situação de proximidade às áreas de visitação, em especial a Cachoeira da
Capelinha e Centro de Visitantes.
Como estratégia técnica para a implantação deste projeto, foi feita a
avaliação da situação da área, com emprego de critérios (chave de decisão),
conforme o Referencial dos Conceitos e Ações de Restauração Florestal do Pacto
pela Restauração da Mata Atlântica (Rodrigues, 2009). O projeto buscou atender
às diretrizes da legislação vigente, como, por exemplo, a Resolução SMA 08/2008,
que fixa a orientação para o reflorestamento heterogêneo de áreas degradadas.
Foram usadas técnicas variadas para a recuperação florestal, em função das
diferentes situações, especialmente o grau de regeneração da vegetação nativa,
considerando também o objetivo didático e demonstrativo. O quadro a seguir
resume a situação das áreas trabalhadas. Para fins de acompanhamento deste
projeto, estes talhões receberam denominações citadas na primeira coluna:
306 Resende, R. U. et al.
Densidade
Talhão Área (ha) Situação Técnicas mudas/ha
Área com gramínea (braquiária), com Plantio total
Baixada 1,50 500
menor expressão da regeneração natural. (3x2)
Adensamento
Área com gramínea (braquiária), e alguma
Cachoeira 2,00 e condução da 1.700
expressão da regeneração natural. regeneração
Plantio
Área predominantemente com gramínea
Curral 0,80 total (2x2) e 2.500
(braquiária) nucleação
Área com gramínea (braquiária), com Plantio total
Morro 1,30 1.700
menor expressão da regeneração natural. (3x2)
Área com gramínea (braquiária), e alguma Adensamento
Sambaqui 0,40 expressão da regeneração natural, situada e condução da 500
entre fragmentos regeneração
Total 6,00
B) Preparo das covas (ou berços): tanto nas situações de plantio total quanto
de enriquecimento, foi feito o preparo manual das covas, com uso de adubação
química (adubo mineral com a formulação 4-14-8), e orgânica (composto orgânico
preparado comercialmente). A exceção foi pequeno talhão na área do curral, onde
foi feito o preparo mecanizado, com uso de sulcador acionado por trator, para fins
de demonstração das alternativas técnicas durante o curso. O coroamento em todas
as situações foi feito com enxada.
Figura 2 - Planta com indicação das intervenções realizadas. Fonte: João Moraes
Neto.
308 Resende, R. U. et al.
Capacitação
A capacitação consistiu em um curso com seis módulos, sendo que quatro
combinaram aulas teóricas e práticas, em um total de 48 horas, além de mais dois
módulos de trabalhos aplicados, com mais 20 horas. O treinamento ocorreu no
período entre 26 de março e 08 de maio de 2010.
O processo teve início em uma reunião na Escola Municipal do Bairro
Capelinha, com a participação de representantes do Instituto Amigos da Reserva
da Biosfera da Mata Atlântica, Conservação Internacional – Brasil, Fundação
Florestal, Prefeitura de Cajati, equipe técnica do projeto e membros da comunidade
da Capelinha, Cajati e bairros vizinhos. Na ocasião, foi feita a apresentação para
a comunidade das atividades previstas, incluindo exposições sobre o Pacto
pela Restauração da Mata Atlântica, Unidades de Conservação e o Mosaico do
Jacupiranga (MOJAC). Também foi definido o processo de seleção dos participantes
do treinamento, sendo distribuídas fichas de inscrição para os interessados, dentre
os quais foram selecionados os 25 participantes, por uma comissão formada por
técnicos do PERT e representantes da comunidade.
Esta seleção levou em conta as condições socioeconômicas dos interessados,
potencial de aplicação dos conhecimentos, além de equilíbrio de gêneros e faixas
etárias. Foram priorizados os moradores do Bairro da Capelinha, município de Cajati,
localizado no interior da APA Cajati e um grupo do Bairro do Ribeirão Vermelho,
situado na APA do Rio Pardinho, município de Barra do Turvo. As aulas aconteceram
nas instalações do Núcleo Capelinha do PERT.
310 Resende, R. U. et al.
Resultados e Discussão
Conclusões
Os autores agradecem:
Aos Moradores da Capelinha e Ribeirão Vermelho.
A Alston do Brasil AS.
À Conservation International.
Ao senhor Eder Lázaro Francisco Santana – Consultor Técnico da Takano
Máquinas. Agrícolas, revendedor Stihl.
Ao Senhor Fábio Barbosa – Técnico Ambiental Grupo Pioneiros Sumaré.
À Fundação SOS Mata Atlântica.
Ao Instituto Amigos da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.
À publicitária Ivy Wiens – Instituto Vidágua.
Ao senhor Paulo César de Souza Filho - Instituto Refloresta.
Restauração participativa em áreas protegidas: uma experiência no Mosaico do Jacupiranga... 313
Ao senhor Roberto Bretzel Martins - Instituto Refloresta.
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