Quais os maiores navios já construidos pelo homem?
Muitas pessoas pensam imediatamente no célebre ‘Titanic’ e nos grandes cruzeiros da atualidade.
No topo da lista, porém, estão os cargueiros e os petroleiros, enormes embarcações projetadas para atender à sempre crescente demanda mundial por bens de consumo e energia, a maioria desconhecida do grande público.
Por este motivo, Diário de Bordo inaugura o tópico “Gigantes dos Mares, apresentando em sua primeira postagem o superpetroleiro “Knock Nevis’, que encabeça o ranking dos maiores navios da História.
Um gigante de muitos nomes
Encomendado em 1974, o ‘Seawise Giant’ (“Gigante do Mar’, o primeiro nome do “Knock Nevis’) foi construído pela Sumitomo Heavy Industries Ltda, em seu estaleiro Oppama, em Yokosuka, Kanagawa, Japão.
Entregue em 1979, o navio permaneceu sem nome por um longo tempo, identificado apenas pelo número de seu casco: 1016.
Durante os testes no mar, o ‘1016’ apresentou vibrações massivas quando navegava à popa, ou seja, à ré. O problema resultou na recusa do proprietário grego em recebê-lo e o navio foi objeto de um demorado litigio.
Após o processo, o construtor exerceu seu direito de venda e, batizando-o “Oppama’, negociou um acordo com a Orient Overseas Container Line, de Hong Kong, no qual ficou acertado o acréscimo de vários metros no comprimento da embarcação e a adição de 146.152 toneladas métricas de capacidade de carga. Dois anos depois foi relançado como “Seawise Giant’.
Concluída a remontagem, o navio apresentava 458,46 metros de comprimento (4 campos de futebol) e 68,8 de boca (largura), o correspondente a um edificio de 23 andares. O calado (casco submerso) de 29, 8 metros equivalia a um prédio de 8 andares e o impedia de navegar pelos canais da Mancha, Suez e Panamá. Carregado, pesava 564.763 toneladas (mais de 5 vezes o peso de um porta-aviões classe Nimitz), deslocando 657.019 toneladas. Possuía 46 tanques, capazes de armazenar 674 297 m3 ou 4 240 865 barris de petróleo, ou seja, mais de 18 mil caminhões tanque. No convés de 31.541 metros quadrados, a tripulação (cerca de 40 homens) costumava andar de bicicleta para ganhar tempo. O leme pesava 2 toneladas e a hélice 50 toneladas.
Em virtude de sua enorme dimensão, poucos portos no mundo podiam receber o “Gigante do Mar”. Geralmente, o superpetroleiro não atracava e descarregava o petróleo em navios menores, em alto-mar.
A rota inicial do ‘Seawise Giant’ ligava o Oriente Médio aos Estados Unidos, porém, desde 1986 foi empregado pelo Irā como armazém flutuante e transporte de cargas durante a guerra contra o Iraque (1980 a 1988). Em 14 de maio de 1988, o superpetroleiro estava ancorado fora da ilha Larak, no Estreito de Ormuz, carregando óleo bruto iraniano, quando sofreu um bombardeio de caças da Força Aérea Iraquiana. Um incêndio sem controle alastrou-se rapidamente a bordo, danificando seriamente o navio nas águas rasas da costa da ilha de Larak.
Em fins de 1989, a companhia norueguesa KS-Company, controlada pela Norman International, comprou o ‘Seawise Giant’, declarado totalmente perdido após a Guerra Irā Iraque. Rebocado do Golfo Pérsico e reparado nos estaleiros da Keppel Company, em Cingapura, recebeu um novo nome, ‘Happy Giant’, entrando em serviço em outubro de 1991.
Ainda em 1991, Jørgen Jahre (1907-1998), um armador norueguês, comprou o petroleiro por US$ 39 milhões, renomeando-o Jahre Viking’, nome pelo qual se tornou mundialmente famoso. De 1991 a 2004, pertenceu à Loki Stream AS, navegando com bandeira norueguesa.
Em 2004, O Jahre Viking’ foi adquirido pela companhia norueguesa First Olsen Tankers Pte. Ltd., rebatizado “Knock Nevis’ e convertido em um petroleiro de armazenamento, permanentemente ancorado no campo petrolífero de Al Shaheen, na costa nordeste do Catar, no Golfo Pérsico.
Em 2009, uma empresa de desmontagem de navios indiana comprou o “Knock Nevis”, que passou a chamar-se ‘Mont”, seu último nome. Navegando com bandeira de Serra Leoa, em dezembro daquele ano partiu para a India, sua viagem final. Em Alang, o maior centro mundial de sucateamento de navios, o ‘Mont’ foi encalhado numa praia para demolição e aproveitamento do aço como sucata.
No início de janeiro de 2010, o maior navio do mundo começou a ser desmontado, em uma operação que durou cerca de 1 ano, em função de seu porte gigantesco e das técnicas rudimentares utilizadas pelos sucateiros indianos. A âncora foi preservada e enviada para o Museu Marítimo de Hong Kong (Hong Kong Maritime Museum).
Tamanho recorde
O‘Knock Nevis’ é considerado o navio mais longo já construído. Com seus 458,46 metros de comprimento, o superpetroleiro superava a altura de muitos dos edificios mais altos do mundo. Embora um pouco menor do que o Taipei 101, de 509 metros, era maior do que o Petronas Twin Towers, de 451,90 metros.
Apesar de seu tamanho colossal, o ‘Knock Nevis’ não batia o recorde de maior tonelagem bruta. Com 260,941 de arqueação (GT), ocupava a quinta posição, atrás dos quatro superpetroleiros franceses da classe ‘Batillus’, os quais possuíam de 274,838 a 275,276 GT.
Entretanto, com 564.763 toneladas, o ‘Knock Nevis’ mantém o primeiro lugar em porte, ou seja, a soma de todos os pesos variáveis que um navio é cap segurança: combustível, água, mantimentos, consumíveis, tripulantes, passageiros, bagagens e carga.
Em suma, os navios da classe ‘Batillus’ e o gigante ‘Knock Nevis foram os maiores objetos autopropulsionados concebidos pelo homem.
O “Knock Nevis’ foi destaque na série da BBC “Jeremy Clarkson’s Extreme Machines’, enquanto navegava como “Jahre Viking’. De acordo com seu capitão, S.K. Mohan, em bom tempo, poderia alcançar até 16,5 nós (30.6 km/h). Nesta velocidade, precisava de 9 km (0 equivalente a 5 milhas náuticas) para parar. O gigantesco navio só conseguia fazer curvas em um raio de 3 km.
Diante de números tão extraordinários, muitos devem se perguntar quais são os limites da engenharia naval.